30.5 C
Brasília
domingo, 16/11/2025




Baixo desemprego não reduz trabalho informal nem aumenta produtividade

Brasília
nuvens dispersas
30.5 ° C
31.7 °
30.5 °
34 %
3.1kmh
40 %
dom
33 °
seg
34 °
ter
35 °
qua
30 °
qui
31 °

Em Brasília

FERNANDO CANZIAN
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

Apesar do desemprego estar no menor nível já registrado, com 5,6% no último trimestre até setembro, o Brasil ainda enfrenta dificuldades para diminuir o número de trabalhadores informais, que permanecem em cerca de 40% da população ocupada há anos.

A produtividade média dos trabalhadores não tem apresentado crescimento. Em uma economia aquecida, onde alguns setores sentem falta de mão de obra, sem aumento na produção por hora trabalhada, as empresas precisam pagar mais para atrair funcionários, o que acaba elevando os preços e gerando inflação.

Os empregados formais são quatro vezes mais produtivos do que os informais, segundo o Instituto Brasileiro de Economia da FGV. Mesmo com a criação de 4,6 milhões de vagas formais desde 2023, o número expressivo de informais (40,8 milhões, conforme dados do IBGE) mantém a produtividade baixa.

O cenário informal se mantém também devido ao grande número de microempreendedores individuais (MEIs) e pessoas jurídicas (PJs). Estes, que representam trabalhadores formalizados de forma simplificada, aumentaram de 3,3% para quase 7% da força de trabalho ao longo de mais de uma década.

Muitos trabalhadores optam por esses modelos para ter mais flexibilidade, seja novos entrantes no mercado ou pessoas que migraram da CLT. Isso faz a taxa de formalidade ficar estável.

Uma pesquisa do Datafolha em junho mostrou que 59% dos brasileiros preferem trabalhar por conta própria, 39% gostariam de ser contratados e 31% valorizam mais ganhar bem do que ter registro formal.

Os trabalhadores com CNPJ têm média salarial maior (R$ 4.947) do que os formais com carteira de trabalho no setor privado (R$ 3.200).

Segundo o Ministério do Trabalho, algumas empresas incentivam essa migração para modelos informais para diminuir encargos, que podem chegar a 70% do salário. Entre 2022 e julho de 2024, 5,5 milhões de trabalhadores saíram da carteira assinada para regime próprio com CNPJ.

Sérgio Vale, da MB Associados, explica que contratar pela CLT é caro, o que leva empresas e funcionários a buscassem meios-termos como MEIs e PJs, uma forma de semi-informalidade.

Setores como agronegócio e varejo relatam dificuldades para encontrar trabalhadores. Na construção civil, por exemplo, há cerca de 10% menos trabalhadores que o necessário, conforme Yorki Estefan, presidente do SindusCon-SP.

Há menos migrantes do Nordeste e muitos jovens evitam a CLT para buscar flexibilidade. A contratação de estrangeiros e mais mulheres para funções menos pesadas e a oferta de salários maiores têm sido estratégias utilizadas.

Mesmo assim, algumas das profissões que mais geraram vagas tiveram queda relativa nos salários entre 2012 e 2024, indicando certa precarização.

O estudo da FGV analisa a variação dos salários médios das profissões e setores e mostra áreas que pagam mais ou menos que a média, conforme dados do IBGE.

A produtividade por hora trabalhada no Brasil está parada, o que impede que empresas aumentem produção sem subir custos com contratações e salários.

Silvia Matos, do Observatório da Produtividade Regis Bonelli, informa que a produção por hora cresceu apenas 0,3% ao ano nos últimos cinco anos, enquanto a renda per capita subiu 1,7% ao ano, impulsionada pelo aumento da ocupação (+1,1% ao ano). Ou seja, houve mais pessoas empregadas proporcionalmente ao crescimento da população ativa.

Para Matos, isso mostra que o crescimento da ocupação, que levou o desemprego a 5,6%, é temporário para a renda per capita, não uma mudança permanente.

Ela destaca que para sustentar o aumento da renda per capita sem gerar desequilíbrios, é essencial que a produtividade cresça, caso contrário o crescimento não será sustentável.

Um dos motivos da baixa produtividade é a pouca abertura do Brasil ao comércio internacional, que representa apenas 1% da economia, reduzindo a competição e eficiência das empresas.

José Pastore, da FEA-USP, diz que o mercado está robusto principalmente por aumento dos gastos públicos, o que considera insustentável.

Ele afirma que há falta de mão de obra e custos crescentes para as empresas, resultado de políticas populistas que aumentam despesas públicas. Segundo ele, essa situação pode se manter até as eleições de 2026, mas será insustentável a longo prazo.




Veja Também