Manter a massa muscular é crucial no tratamento do câncer de mama. Mulheres com menos massa muscular tendem a responder pior à quimioterapia, apresentar mais efeitos colaterais e ter menor sobrevida, segundo estudo da Universidade de São Paulo (USP), com apoio da Fapesp.
Os resultados, publicados na revista Discover Oncology, indicam que pacientes com baixa massa muscular no diagnóstico enfrentam maior risco de complicações e avanço da doença.
Pesquisadores da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP (FMRP-USP) explicam que os músculos desempenham papel fundamental na regulação da inflamação, no metabolismo e na absorção de medicamentos, o que explicaria os piores desfechos em mulheres com composição corporal comprometida.
Mirele Savegnago Mialich Grecco, nutricionista e pesquisadora da FMRP-USP, afirma que mulheres com câncer de mama tendem a perder massa e força muscular durante o tratamento, o que pode levar a resultados negativos como maior toxicidade da quimioterapia e até risco de morte.
Avaliação antes da quimioterapia
O estudo analisou 54 pacientes do Ambulatório de Mastologia do Hospital das Clínicas da FMRP-USP, todas com câncer de mama em estágio inicial e ainda sem tratamento. Antes da quimioterapia, foram realizadas tomografias, testes físicos e exames de sangue, além da avaliação do ângulo de fase, que indica a qualidade da composição corporal.
Cinco anos depois, a análise dos prontuários mostrou que aquelas com baixa massa muscular tiveram menor taxa de sobrevida, independente da idade ou estágio do câncer, mesma tendência vista em pacientes com baixo ângulo de fase.
Embora a tomografia computorizada seja precisa para medir a massa muscular, nem sempre está disponível na clínica. Por isso, os pesquisadores sugerem o uso do ângulo de fase, um método portátil, acessível e de baixo custo, como ferramenta auxiliar para avaliar essas pacientes.
Grecco ressalta que apesar da praticidade, o ângulo de fase requer conhecimento para correta interpretação.
Importância da massa muscular no tratamento
Segundo dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca), o câncer de mama é a principal causa de morte por câncer em mulheres no Brasil. Entre 2023 e 2025, são esperados quase 74 mil novos casos por ano. A baixa massa muscular está presente em até 40% dessas pacientes, especialmente aquelas com sobrepeso ou obesidade, o que pode mascarar a condição real do corpo.
Grecco enfatiza que o excesso de peso pode esconder a perda muscular, dificultando a avaliação se não for feita análise detalhada da composição corporal.
O estudo incentiva o monitoramento da saúde muscular das pacientes desde o início do tratamento oncológico, com intervenções como maior ingestão de proteínas e exercícios físicos adequados à condição clínica.
O objetivo não é o ganho muscular, mas evitar perdas significativas e preparar o corpo para o tratamento, garantindo melhor qualidade de vida e resultados terapêuticos.