ISABELLA MENON
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
Em 2024, o Brasil registrou pelo menos 593 mil denúncias de abuso sexual infantil na internet, segundo dados do Centro Nacional de Crianças Desaparecidas e Exploradas (NCMEC), uma organização americana criada nos anos 1980 para combater a exploração sexual de menores.
Essas informações foram divulgadas inicialmente pelo jornal O Globo e confirmadas pela ONG Safernet. Devido a esse número, o Brasil entrou para o 7º lugar entre os dez países com maior quantidade de denúncias de exploração sexual infantil online, ficando atrás apenas da Índia, que registrou dois milhões de casos.
Entre 2023 e 2024, houve um aumento nas denúncias no Brasil, passando de 567 mil para 593 mil. Esse crescimento é contrário à tendência global que mostra uma queda de 40% nas denúncias, de 36,2 milhões para 20,5 milhões no mesmo período.
Thiago Tavares, à frente da Safernet, explicou que está fazendo uma análise inicial dos dados e que é preciso investigar mais para entender os motivos desse aumento, que pode estar relacionado a maior conscientização pública e mais denúncias feitas em grupos online.
Os dados do NCMEC vêm de relatórios enviados por empresas de internet que operam ou têm presença nos Estados Unidos, como Google e Facebook, excluindo plataformas como Kwai e Telegram. Essas empresas identificam imagens ou vídeos de abuso, enviam relatórios para o órgão americano, que depois compartilha as informações com as autoridades do país envolvido, no caso o Brasil com a Polícia Federal.
É importante destacar que o número de denúncias não corresponde ao número real de casos ou vítimas, pois um mesmo conteúdo pode ser reportado várias vezes por diferentes empresas e plataformas. Para que um relatório seja associado ao Brasil, o material deve ser enviado através de um endereço IP brasileiro, independentemente da nacionalidade da vítima.
Denúncias à Safernet
Apesar do aumento no número geral de denúncias, a Safernet registrou uma queda nas denúncias diretamente feitas à organização em 2024 em comparação com 2023, mas isso não significa que a internet esteja mais segura.
Essa redução pode estar relacionada ao aumento do uso de aplicativos de mensagens privados, principalmente o Telegram, para a divulgação desses conteúdos. O Telegram afirma ter políticas rigorosas contra pornografia ilegal e usa moderação humana e tecnologia avançada para combater esses abusos.
Em agosto de 2024, após a divulgação de um vídeo do influenciador Felca, que alertava sobre a sexualização precoce na internet, as denúncias à Safernet cresceram 114%. Foram registrados 1.651 casos entre os dias 6 a 12 de agosto, contra 770 no mesmo período de 2023.
No vídeo que gerou diversos projetos de lei para proteger menores, Felca denuncia como pessoas ganham dinheiro explorando vídeos com conteúdo sexual envolvendo crianças e adolescentes nas redes sociais.
A Safernet tem abordado essas questões desde o ano anterior, destacando o uso do Telegram para distribuir e comercializar vídeos abusivos contra crianças e adolescentes, além do uso de códigos e emojis para solicitar esse tipo de conteúdo.
Um exemplo é o termo “child pornography”, que criminosos abreviam para “c” e “p” ou usam palavras que começam com essas letras para pedir esse tipo de material na internet.

