PEDRO LOVISI
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
A Sigma Lithium, a maior mineradora de lítio do Brasil, enfrenta dificuldades financeiras e atrasos em seus planos de expansão devido à demora na liberação de um empréstimo de R$ 487 milhões do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). Um ano após o anúncio do crédito, a empresa ainda não recebeu o dinheiro, o que reduziu o ritmo de seus investimentos.
Os recursos do BNDES foram essenciais para a expansão da produção de lítio, planejando aumentar sua capacidade de 270 mil para 520 mil toneladas por ano, o que a tornaria uma das maiores do mundo no setor. No entanto, sem o dinheiro, a empresa conseguiu avançar apenas na terraplanagem.
O financiamento ofereceria uma taxa de juros anual de 7,45% por 16 anos, inferior à atual taxa Selic, e viria do Fundo Clima, que apoia projetos que ajudam a reduzir gases do efeito estufa. O lítio é fundamental para baterias de carros elétricos.
Para liberar o crédito, o BNDES pediu uma carta fiança de um banco brasileiro. Até agora, nenhum banco aceitou essa garantia estendendo suporte à Sigma. O prazo para conseguir essa carta termina em abril do próximo ano, mas as recusas têm prejudicado os planos da mineradora.
A baixa do preço do lítio no mercado internacional contribui para o problema. Em 2023, o preço da tonelada do mineral caiu de cerca de US$ 8.000 para pouco mais de US$ 900, o que causou uma queda de 80% nas ações da Sigma e reduziu seu valor de mercado de quase 6 bilhões para 1 bilhão de dólares canadenses.
Devido à queda nos preços, a empresa reduziu o volume de vendas para proteger suas margens de lucro, o que impactou negativamente seu caixa, que diminuiu de US$ 75 milhões para US$ 15 milhões até o final do segundo trimestre de 2024.
A Sigma está em negociações avançadas com bancos internacionais e escolheu esperar por condições mais favoráveis antes de concluir o financiamento. A empresa não está mais procurando bancos nacionais devido à alta taxa de juros Selic. Entretanto, o plano de investimentos segue conforme previsto.
Segundo Rossandro Ramos, professor da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro e especialista em lítio, a queda dos preços resulta da grande oferta feita pela China, que utiliza um minério com menor teor de lítio, mas está adotando novas regras para limitar essa concorrência, o que pode melhorar os preços no futuro.
Rossandro Ramos também comenta que a situação da Sigma reflete o desafio geral enfrentado por empresas brasileiras na obtenção de financiamento, pois muitos projetos aprovados pelo BNDES estão bloqueados por dificuldades relacionadas às garantias.
Há preocupação no setor de mineração de que outras empresas enfrentem problemas semelhantes ao disputar recursos do edital de R$ 5 bilhões do BNDES para minerais críticos. Muitas mineradoras são de menor porte e podem ter ainda mais dificuldade em obter fiadores bancários, já que metade dos R$ 46 bilhões avaliados pelo BNDES destinam-se a projetos de lítio e terras raras.