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sexta-feira, 19/09/2025

Ativista deportado vira símbolo da repressão política nos EUA

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A decisão judicial divulgada na quarta-feira (17/9) autorizou a expulsão do estudante Mahmoud Khalil, ativista pró-Palestina e ex-líder das manifestações na Universidade Columbia, em Nova York, reacendendo o debate sobre repressão política nas universidades americanas. A sentença, proferida em abril pela juíza de imigração Jamee Comans, da Louisiana, determina sua deportação para Argélia — seu país de cidadania — ou para Síria, onde nasceu em uma família palestina.

Embora o caso ainda possa ser revertido em instâncias judiciais superiores, já mobiliza organizações de direitos civis, advogados e grupos estudantis. Khalil, que possui residência legal nos EUA por meio do green card, foi detido em março pela polícia de fronteira (ICE) e permaneceu preso por mais de três meses em um centro de detenção para imigrantes. Durante esse período, sua esposa — uma dentista norte-americana — deu à luz ao primeiro filho do casal.

Segundo a juíza, Khalil teria omitido informações intencionalmente em seu processo migratório. A defesa nega e aponta retaliação política. Em comunicado à União Americana pelas Liberdades Civis (ACLU), o estudante afirmou: “Não surpreende que o governo Trump continue tomando medidas de retaliação contra mim por exercer minha liberdade de expressão”.

Khalil tornou-se uma das figuras mais visíveis do movimento “Revolt for Rafah”, que ocupou o campus de Columbia para protestar contra os bombardeios israelenses na Faixa de Gaza. A repressão ao ativismo estudantil pró-Palestina aumentou desde a posse de Donald Trump em janeiro de 2025. Conforme levantamento da Human Rights Watch, ao menos 17 estudantes foram detidos em situações semelhantes desde fevereiro, e três enfrentam processos de deportação.

Este caso remete a episódios históricos de perseguição política nos Estados Unidos. Durante o macarthismo, na década de 1950, estudantes e professores foram expulsos de universidades sob suspeita de apoio ao comunismo. Mais recentemente, em 2020, líderes do movimento Black Lives Matter foram alvo de vigilância federal e processos após protestos contra a violência policial.

A base legal para a expulsão — prevista na Lei de Imigração e Nacionalidade de 1952 — permite deportações por “risco à política externa”, uma cláusula vaga criticada por especialistas por possibilitar perseguições ideológicas. O secretário de Estado Marco Rubio defendeu a medida, alegando que Khalil “representa uma ameaça à estabilidade diplomática dos EUA”.

A decisão gerou protestos em Nova York, Washington e na Universidade Columbia. Estudantes, professores e organizações como a ACLU e o Center for Constitutional Rights consideraram a expulsão um ataque direto à Primeira Emenda da Constituição dos EUA, que garante liberdade de expressão e associação.

O episódio também ganhou repercussão internacional. Anistia Internacional e a Federação Internacional de Direitos Humanos (FIDH) pediram que o governo americano suspenda a deportação e investigue possíveis abusos de poder.

Para o público brasileiro, o caso evidencia como o ativismo estudantil ligado a causas internacionais pode ser criminalizado em contextos de polarização intensa.

A defesa de Khalil prepara recurso judicial, e o processo tende a se tornar um marco sobre os limites da liberdade política de estudantes estrangeiros nos Estados Unidos.

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