SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Novos bombardeios promovidos por Israel resultaram na morte de pelo menos 60 pessoas neste sábado (28) na Faixa de Gaza, conforme relatos de médicos e profissionais de saúde à agência AFP. Os ataques atingiram um campo de refugiados montado no Estádio da Palestina, na Cidade de Gaza, além de prédios residenciais.
Segundo os profissionais de saúde, cerca de 20 corpos foram encaminhados ao hospital Nasser, enquanto outros foram levados para o centro médico Al-Shifa.
Esses ataques ocorreram poucos dias após um cessar-fogo entre Israel e o Irã, que se estabeleceu após doze dias de conflito e após os Estados Unidos terem feito um ataque direto ao regime iraniano. Com a pressão do então presidente Donald Trump, os países interromperam o lançamento de mísseis. Agora, intermediadores indicam que há uma oportunidade para um novo cessar-fogo também em Gaza.
O Ministério das Relações Exteriores do Qatar, que tem atuado como mediador entre Tel Aviv, Washington e o grupo Hamas, afirmou que caso essa oportunidade não seja aproveitada, será mais uma chance perdida, como já ocorreu anteriormente. O país enfatizou o desejo de evitar que isso se repita.
Trump também manifestou otimismo quanto a um possível cessar-fogo em Gaza. “Acredito que estamos próximos disso. Acabei de conversar com as partes envolvidas”, declarou o ex-presidente na sexta-feira (27). “Creio que na próxima semana teremos uma trégua”, acrescentou, sem fornecer detalhes adicionais.
A situação humanitária em Gaza está cada vez mais grave, segundo as Nações Unidas. Toda a população enfrenta insegurança alimentar, e as tentativas de entrega de ajuda humanitária se transformaram frequentemente em situações de risco desde que Israel assumiu o controle sobre a Fundação Humanitária de Gaza (FHG).
O governo de Tel Aviv justifica a medida como forma de evitar que os suprimentos sejam desviados pelo Hamas, o que é negado pelo grupo. A ONU alerta que a FHG age de forma parcial, comprometendo os princípios do trabalho humanitário.
Recentemente, a ONG Médicos Sem Fronteiras denunciou que a FHG conduz uma falsa distribuição de alimentos, provocando tragédias em série, e pediu o encerramento da instituição. Segundo a MSF, o sistema, apoiado pelos EUA e Israel, parece desenhado para humilhar os palestinos em Gaza.
A organização relatou que mais de 500 pessoas morreram e quase 4.000 ficaram feridas enquanto tentavam obter alimentos nesses pontos desde o fim do bloqueio total à região em maio.
As equipes médicas da MSF atendem diariamente vítimas fatais e feridos por disparos enquanto buscavam comida. Também foi observada uma elevação significativa no número de feridos por tiros.
Ao mesmo tempo, reportagem do jornal israelo Hareetz no último dia sexta-feira trouxe depoimentos de soldados que protegem os trabalhadores da FHG, afirmando que ordens para disparar contra civis em busca de alimentos partiram dos altos escalões. O governo do primeiro-ministro Binyamin Netanyahu negou as acusações, e as Forças Armadas israelenses iniciaram uma investigação.
Também no sábado, o diretor da FHG, o líder evangélico americano Johnnie Moore, declarou à BBC que as mortes ocorridas em entregas de suprimentos não aconteceram próximas às operações da Fundação, afirmação contestada pela ONU.
Moore afirmou existir uma campanha de desinformação promovida por algumas pessoas, e que a ONU e outras entidades divulgam informações não verificáveis. Na sexta-feira, o secretário-geral da ONU, António Guterres, classificou o sistema da FHG como inseguro e ressaltou que buscar alimentos não pode ser sinônimo de sentenciar alguém à morte.