Doha enfrentou momentos de grande tensão após sofrer ataques aéreos pelo exército de Israel na última terça-feira (9/9). Sob a justificativa de combater uma “organização terrorista”, o exército israelense teve como alvo figuras do grupo palestino Hamas que estavam na capital do Catar para negociar um cessar-fogo. A ação gerou forte repercussão internacional e revolta no Catar, pressionando ainda mais Israel.
O ataque atingiu o prédio onde o grupo palestino mantinha seu escritório político, visando atingir líderes envolvidos nas negociações para acabar com o conflito com Israel.
Dentre os que sobreviveram está Khalil al-Hayya, importante integrante do Hamas responsável pelas negociações de cessar-fogo na Faixa de Gaza. Contudo, seis membros do grupo morreram nos bombardeios.
A presidência do Egito, um mediador importante nas tratativas de paz, condenou a ofensiva como uma clara violação das leis internacionais e da soberania do Catar.
Segundo as forças israelenses, os alvos eram responsáveis por ações terroristas e diretamente relacionados ao ataque de 7 de outubro e à condução da guerra contra Israel.
Conflito entre Israel e Hamas
A situação de fome na Faixa de Gaza tem piorado devido a um cerco rígido imposto por Israel, que prossegue uma ofensiva contra o último reduto do Hamas no território palestino.
O Hamas afirmou estar aberto à proposta de cessar-fogo intermediada pelo Egito e pelo Catar, que inclui uma pausa nas ações militares durante 60 dias e a troca de reféns israelenses por prisioneiros palestinos. Até agora, Israel não comentou oficialmente as negociações.
Os líderes do Hamas estavam reunidos em Doha para discutir o cessar-fogo quando foram atacados, provocando preocupação global, manifestada por líderes como o Papa Leão XIV. O presidente francês, Emmanuel Macron, chamou o ataque de inaceitável e expressou solidariedade ao Catar e seu emir, Sheikh Tamim Al Thani, ressaltando a importância de evitar a expansão do conflito na região.
O primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer, também condenou o ataque e alertou para os riscos de escalada regional. O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, classificou os bombardeios como uma grave violação da soberania do Catar. O Papa Leão XIV manifestou preocupação com a gravidade da situação.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, assumiu total responsabilidade pela operação contra os líderes do Hamas. Em resposta, o primeiro-ministro do Catar, xeique Mohammed bin Abdulrahman bin Jassim Al-Thani, condenou o ataque, afirmando que Israel destruiu as esperanças de negociações por meio dessa ação, considerando-a uma atitude bárbara e inesperada.
Cenário militar
João Miragaya, mestre em história pela Universidade de Tel-Aviv e especialista em relações Israel-Brasil, informou que o objetivo declarado por Netanyahu é pressionar o Hamas a aceitar a proposta de cessar-fogo e retaliar pelo atentado reivindicado pelo grupo em Jerusalém.
Miragaya também comentou que alguns acreditam que o real intuito é frustrar as negociações de paz, pois o término do conflito poderia contrariar interesses expansionistas dentro do governo israelense.
Apesar da retaliação diplomática do Catar ser preocupante para Israel, o especialista avalia que uma escalada militar significativa é improvável, dado o limitado poder bélico catarense.
O Catar mantém um papel central como mediador das negociações, com participação dos Estados Unidos, mesmo diante da crise. O país sabe que abandonar essa posição significaria perda de influência regional.
As forças israelenses e a Agência de Inteligência do país afirmaram que continuam suas operações contra o Hamas.
