Empresas de carga, autoridades governamentais e inúmeras partes afetadas: todos vão levantar os prejuízos, e o peso pode recair sobre a seguradora da proprietária do Ever Given
Tóquio – Foram necessários seis dias para liberar um navio gigante de contêineres que encalhou no Canal de Suez, bloqueando essa que é uma das artérias marítimas mais importantes do mundo. Descobrir quem vai pagar pela confusão pode ser trabalho para alguns anos.
Empresas de carga, seguradoras, autoridades governamentais e inúmeros advogados, todos com agendas e abordagens diferentes, não só precisarão determinar o dano total, mas também o que deu errado. Quando terminarem esse levantamento, as seguradoras da proprietária japonesa do navio provavelmente suportarão o peso da dor financeira.
Os custos podem aumentar rapidamente. Há os reparos aos danos físicos causados ao Ever Given, o navio que ficou preso no canal. Há a conta dos rebocadores na linha de frente que conseguiram liberar o navio encalhado. A autoridade que opera o Canal de Suez já divulgou que a crise custou ao governo egípcio até US$ 90 milhões em receitas de pedágio perdidas, com centenas de navios esperando para passar pela hidrovia bloqueada ou optando por seguir outras rotas.
E o navio encalhado impediu que até US$ 10 bilhões em cargas diárias atravessassem o canal, incluindo carros, petróleo, gado, laptops, tênis, eletrônicos e papel higiênico. As empresas que entregam mercadorias podem ter de pagar aos clientes por prazos não cumpridos. Se algum produto agrícola se perdeu, os produtores talvez tentem recuperar a perda de receita.
Todos esses efeitos em cascata podem equivaler a sinistros de seguros na ordem de centenas de milhões de dólares, bem como a perdas mais amplas causadas pelos atrasos na cadeia de abastecimento global.
A bagunça financeira vai envolver uma rede multinacional de negócios, liderada pela proprietária japonesa do navio, por sua operadora taiwanesa e pelo agente de gestão alemão que contratou a tripulação, bem como por uma miríade de empresas de carga que alugaram espaço nos contêineres do navio e um amplo grupo de empresas de seguros que se estende de Tóquio a Londres.
A responsabilidade final pode recair sobre as seguradoras da proprietária do navio, a Shoei Kisen Kaisha Ltd., subsidiária da construtora japonesa Imabari, de 120 anos de existência.
Equipes da empresa alemã que contratou a tripulação e um consórcio de seguradoras para o proprietário do navio estão apenas começando a investigar o que causou o encalhe do Ever Given. Autoridades do Panamá, onde o navio está registrado, também conduzem um inquérito, assim como investigadores de outras partes interessadas. Suas conclusões, alinhadas ou não, poderão complicar as questões de responsabilidade, mantendo fiscais de sinistros e advogados ocupados por anos nas trocas de acusações.
Os investigadores querem saber quem foi o responsável pelo problema – foi a tripulação, foram funcionários da Autoridade do Canal de Suez ou foi apenas um ato da natureza ou um acidente causado pelo vento?”, disse Richard Oloruntoba, professor associado de gestão da cadeia de suprimentos na Escola de Administração Curtin em Perth, na Austrália, acrescentando que, mesmo depois que as investigações forem concluídas, “a coisa não está clara. Tudo depende da qualidade dos advogados e dos contratos firmados”.
O aspecto mais simples são os danos ao navio e ao canal. No ramo marítimo, esses custos geralmente recaem sobre as seguradoras do proprietário do navio – nesse caso, um consórcio liderado pela Mitsui Sumitomo Insurance com a Tokio Marine e a Sompo Japan. Relatórios iniciais indicam que o navio não sofreu muitos danos, e não houve vazamento de poluentes.