Os mercados financeiros reagiram nesta quarta-feira (15) às incertezas sobre a ajuda dos Estados Unidos ao governo do presidente Javier Milei, enquanto a população espera os resultados das negociações antes das eleições legislativas.
Na terça-feira, o presidente Donald Trump disse que a ajuda financeira só será concedida se Milei vencer as eleições de 26 de outubro: “Se não ganharem, nós saímos”. O governo argentino tentou minimizar essas declarações.
Porém, na quarta-feira, o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Scott Bessent, declarou que o governo americano está trabalhando para aumentar a ajuda para até 40 bilhões de dólares, o que gerou otimismo nos mercados.
Enquanto os mercados mostram volatilidade diante das notícias dos EUA, a população permanece insegura sobre o futuro.
Fernando Román, dono de uma oficina em Buenos Aires, contou que as pessoas têm adiado compras e investimentos por conta das incertezas, o que faz sua empresa funcionar apenas parcialmente.
Os mercados em ebulição
O dólar, que abriu em alta na Argentina, teve uma subida moderada após o anúncio de Bessent, e a Bolsa de Buenos Aires teve valorização.
Mesmo assim, a desconfiança persiste e aumenta a procura por moedas estrangeiras.
Desde a derrota do governo nas eleições em Buenos Aires, o peso argentino está enfraquecido, e pesquisas indicam que Milei pode enfrentar nova derrota para o peronismo.
Além disso, o Congresso tem criado obstáculos ao governo ao vetar decretos e convocar familiares de Milei para investigações, o que aumenta a instabilidade política.
A economia apresenta fragilidades, com inflação aumentando nos últimos meses e chegando a 2,1% em setembro, a mais alta desde abril.
O consumo está em queda, a indústria desacelerou e as taxas de juros superam 100% ao ano, indicando risco de recessão.
Consultorias privadas alertam para possibilidade de desvalorização abrupta do peso caso o partido de Milei tenha maus resultados nas eleições.
Em abril, a Argentina recebeu cerca de 20 bilhões de dólares em um acordo com o FMI, e Milei aposta na ajuda dos Estados Unidos para evitar o risco de calote, enfrentando pagamentos de dívida que chegam a 4 bilhões de dólares em janeiro.
Dependência externa
O cientista político Iván Schuliaquer diz que o governo argentino já não depende somente de si mesmo, mas precisa da ajuda de parceiros estrangeiros para manter seu plano econômico, que enfrenta falta de dólares.
A oposição critica o apoio americano, considerando-o uma interferência, com o senador Martín Lousteau afirmando que o governo dos EUA quer apenas salvar Milei.
Schuliaquer destaca que o governo não usou bem o superávit dos últimos anos e enfrenta uma crise econômica e política profunda, sem melhorar a vida da população.
Ele ressalta a necessidade de alianças políticas, mas aponta que até agora o governo não mostrou habilidade para negociar.
O analista político Carlos Germano avalia que o apoio dos Estados Unidos reflete uma mudança estratégica na relação com a América Latina, baseada na afinidade ideológica entre Trump e Milei, que pode continuar além das eleições.
Segundo ele, a negociação norte-americana já sugere a ideia de um governo de coalizão, sendo fundamental superar a postura rígida do partido de Milei, chamado A Liberdade Avança, para que o país avance.