Aquecimento global pode aumentar mortes infantis por diarreia
A diarreia permanece uma das principais causas de óbitos entre crianças pequenas no mundo, com maior impacto em países do hemisfério Sul, especialmente no Sudeste Asiático. Um estudo recente sinaliza que essas mortes podem se intensificar devido às mudanças no clima.
A pesquisa, divulgada em 1º de agosto na revista Environmental Research, revela que o aumento das temperaturas e a diminuição das chuvas elevam significativamente o risco de diarreia infantil em áreas vulneráveis, podendo causar novos picos de fatalidades.
De acordo com o estudo, variações térmicas entre 30 e 40 °C aumentam em até 39% a probabilidade de uma criança desenvolver diarreia. A seca prolongada ainda pode limitar o acesso à água e incrementar esse risco em 29%, piorando a situação de comunidades com infraestrutura limitada.
Mortalidade por diarreia pode ser evitada com educação
A pesquisa conduzida pela Universidade Flinders, Austrália, baseou-se em dados de saúde de 3 milhões de crianças com diarreia em oito países asiáticos, como Índia e Filipinas. Os pesquisadores analisaram variáveis climáticas, socioeconômicas e de saúde infantil para compreender o impacto das mudanças climáticas no risco da doença.
Corey Bradshaw, professor de ecologia e coautor do estudo, enfatiza que a resposta deve transcender a área da saúde. “É urgente a implementação de políticas que protejam as crianças dos efeitos crescentes da crise climática”, declarou em entrevista à universidade.
Os autores destacam que filhos de mães com baixa escolaridade enfrentam maiores riscos. Conforme a doutoranda Hira Fatima, líder do estudo, “crianças cujas mães têm menos de oito anos de escolaridade apresentam 18% mais chance de adoecer gravemente de diarreia”.
A falta de informação dificulta a prevenção e o diagnóstico precoce. Por isso, os pesquisadores defendem o investimento em educação materna como uma estratégia eficiente para adaptação às mudanças climáticas, especialmente em locais com acesso limitado a infraestrutura básica, como saneamento.
Saneamento inadequado impacta nas mortes
Mais de 88% das mortes por diarreia estão associadas à água contaminada ou falta de saneamento básico. Melhorar o acesso à água potável reduz em 52% o risco da doença, enquanto instalações sanitárias adequadas diminuem esse risco em até 24%.
A pobreza é um fator central, limitando o acesso a alimentos seguros, tratamentos médicos, moradia adequada e conhecimento, favorecendo a propagação de agentes infecciosos entre crianças menores de 5 anos.
Além disso, a superlotação urbana facilita a disseminação da doença em residências e escolas. A água armazenada em recipientes abertos ou exposta ao sol pode propagar a diarreia, especialmente em períodos quentes e secos.
Recomendações dos pesquisadores
- Ampliar o acesso à educação materna;
- Melhorar os sistemas de abastecimento de água segura;
- Implementar políticas habitacionais que reduzam a superlotação nas grandes cidades.
Os autores concluem que, apesar dos avanços no combate à diarreia, as mudanças climáticas apresentam novos desafios. As vulnerabilidades sociais e climáticas interagem, aumentando o risco de mortes por doenças evitáveis e tratáveis.