O cumprimento das metas atuais para diminuir as emissões de gases do efeito estufa pode evitar 57 dias a mais de calor extremo ao ano, segundo um estudo da Atribuição Climática Global (WWA) e da Climate Central, divulgado em 16 de outubro.
Embora o calor seja a forma mais letal de clima severo, ele frequentemente é ofuscado por ameaças mais visíveis, como enchentes e tempestades. No entanto, até pequenos aumentos de temperatura causam sérios danos a plantas, animais e pessoas.
As alterações climáticas estão aumentando a intensidade e a frequência das ondas de calor, que, a cada ano, causam cerca de meio milhão de mortes e colocam ecossistemas vitais, como os recifes de corais, em risco iminente.
Reduzir as emissões de forma mais agressiva para alcançar as metas do Acordo de Paris faria uma diferença significativa para muitas comunidades globalmente, conforme o relatório. Friederike Otto, climatologista ligada à WWA, destacou: “Ainda não atingimos a ambição máxima e isso representa um grande problema que afetará a vida e o sustento dos mais vulneráveis no mundo.”
Impacto do Acordo de Paris
Desde sua adoção em 2015, o Acordo de Paris comprometeu 196 países a limitar o aumento da temperatura global a menos de 2 °C, com esforços para não ultrapassar 1,5 °C acima dos níveis pré-industriais. Atualmente, o planeta aqueceu aproximadamente 1,4 °C.
Mesmo com as metas atuais, a tendência é chegar a um aumento de pelo menos 2,6 °C até o fim do século, o que representa 57 dias extras de calor intenso ao ano, em comparação com o clima atual.
Kristina Dahl, vice-presidente de ciência da Climate Central, afirmou que muitos países ainda não estão preparados nem para o aquecimento já existente. Sem o Acordo de Paris, a realidade seria ainda mais severa, com 4 °C de aumento e 114 dias adicionais de calor extremo por ano até 2100.
Consequências e realidades locais
Nas últimas décadas, eventos climáticos como as ondas de calor na Europa em 2023 e no sul dos EUA e México em 2024, se tornaram muito mais frequentes e intensos, resultando em milhares de mortes e agravamento de secas.
Mesmo pequenos aumentos de temperatura têm efeitos significativos em regiões vitais como a Floresta Amazônica, que é essencial para o equilíbrio climático global.
Theo Keeping, pesquisador do Imperial College de Londres, enfatizou que o calor extremo, como o observado na Amazônia em 2023, que causou severas secas, tornou-se dez vezes mais provável em uma década com aumento de 0,3 °C.
Impacto na saúde humana e necessidade de adaptação
O calor afeta especialmente os grupos mais vulneráveis, como idosos, pessoas com problemas de saúde, trabalhadores externos e famílias com baixa renda. Desde 1990, as mortes relacionadas ao calor em idosos acima de 65 anos aumentaram 167%, conforme alerta Friederike Otto.
Ainda que as metas do Acordo de Paris sejam cumpridas, dois meses adicionais de calor intenso ao ano apresentam grandes desafios para os direitos humanos e a adaptação social e econômica.
Medidas simples, como fortalecer sistemas de saúde, água e energia, aumentar áreas verdes urbanas e proteger os trabalhadores, podem salvar vidas, mas o financiamento para essas adaptações ainda é insuficiente.
Caminho para o futuro
Apesar do avanço das energias renováveis, 2024 foi o ano mais quente já registrado, e os níveis de CO2 atingiram recordes históricos. É urgente que os países aumentem os cortes nas emissões para manter o aquecimento global abaixo de 2 °C.
Otto ressalta: “Temos o conhecimento e a tecnologia para deixar os combustíveis fósseis para trás, mas são necessárias políticas mais fortes e justas para acelerar essa transição.”