Ainda sem ocupar um cargo na Câmara Municipal, a maioria dos vereadores “novatos” diz ser contra o aumento de 26,3% do próprio salário, aprovado por 30 votos a 11 na semana passada. Levantamento feito pelo jornal O Estado de S. Paulo mostra que 17 das 22 “caras novas” da Casa, ou 77,3%, são contra a medida. Os demais preferiram não se posicionar. Ninguém defendeu publicamente o reajuste.
O aumento salarial repercutiu negativamente, com reação nas redes sociais, além de liminar da Justiça de São Paulo que barrou temporariamente o reajuste. Os vereadores consultados não participaram da votação oficial, uma vez que só entrarão na Casa em janeiro.
Ao justificar a abstenção, Alessandro Guedes (PT) disse não estar “acompanhando o debate”. “Vivemos um momento delicado, mas quem votou (o reajuste) tem algum motivo. Eles não estão legislando em causa própria, até porque muitos não estarão lá no ano que vem”, afirmou.
“Nem tive o cuidado de ver quanto ganhava um vereador durante a campanha”, disse João Jorge (PSDB), que preferiu não opinar. Questionados, Camilo Cristófaro (PSB) e André Santos (PRB) também optaram por não se posicionar. Isac Felix (PR) não respondeu.
Contrários
A crise econômica foi o principal argumento dos vereadores que declararam ser contra o aumento salarial – mesmo quando a bancada atual do partido na Câmara foi a favor da medida. Recordista de votos, Eduardo Suplicy (PT), por exemplo, diz não concordar com a posição dos colegas de legenda. “Não houve debate prévio significativo que envolvesse todo o partido e a sociedade”, afirmou. “Eu não cheguei a ser consultado.”
Eleitos pelo PSDB, Aline Cardoso, Adriana Ramalho, Fabio Riva e Daniel Annenberg afirmaram discordar do aumento – o último vai assumir a Secretaria de Inovação e Tecnologia da gestão João Doria (PSDB). “Cargo público não é profissão, então não tenho por que exigir reajuste”, disse Adriana. Por sua vez, Aline afirmou que seria “delicado” passar quatro anos sem reajuste, mas o “momento não é oportuno”. “Chegamos a discutir se haveria outra possibilidade na bancada do PSDB.”
Membro do DEM, cujo líder Milton Leite é autor da proposta de reajuste, Fernando Holiday disse ter “independência em relação à bancada partidária”. “Friamente, é possível entender o aumento, mas os vereadores atuais deveriam ter tido um pouco mais de olhar para a situação”, afirmou. Sobre a crise, Milton Ferreira (PTN) disse “saber como as coisas estão”. “Sou médico e trabalho na periferia”, afirmou.
“Votaria a favor, caso o reajuste se estendesse para todos os servidores públicos”, declarou Claudio Fonseca (PPS). Do PSD, Rodrigo Goulart e Rute Costa disseram ser contra, mas fizeram ressalvas. “Vereador tem de trabalhar muito”, disse Goulart. “Eles estão muito tempo sem reajuste”, afirmou Rute.
Ao Estado, Soninha (PPS), que vai assumir a Secretaria de Desenvolvimento Social, além de Tripoli (PV), Rinaldi Digilio (PRB), Zé Turin (PHS) e Gilberto Nascimento Jr. (PSC) disseram que não votariam na proposta. Nas redes sociais, Sâmia Bomfim (PSOL) e Janaina Lima (Novo) escreveram ser contra o reajuste.