O anticoncepcional hormonal injetável vendido sob a marca Depo-Provera está atualmente sendo investigado em um processo judicial nos Estados Unidos. Estudos indicam que mulheres que utilizaram esse medicamento apresentaram maior risco de desenvolver meningioma em comparação com aquelas que usaram anticoncepcionais orais.
O que é o meningioma?
O meningioma é um tipo de tumor que surge nas meninges, as membranas que envolvem o cérebro e a medula espinhal. Esse tumor é bastante comum no sistema nervoso central e geralmente ocorre em pessoas entre 40 e 60 anos, mas também pode afetar crianças e idosos. Entre os tumores cerebrais, o meningioma é o único que apresenta maior incidência entre mulheres.
Na maioria dos casos, o meningioma é benigno, mas pode pressionar áreas sensíveis do cérebro, causando sintomas como convulsões, alterações na visão e na fala, dificuldades cognitivas e, em casos mais graves, AVC.
O princípio ativo do Depo-Provera é o acetato de medroxiprogesterona, administrado via injeção a cada três meses. É um método contraceptivo hormonal adotado por milhões de mulheres em vários países.
O advogado Chris Paulos, que representa alguns pacientes envolvidos em ações judiciais referentes ao Depo-Provera, relatou à revista People que têm sido atendidos casos de AVC, distúrbios convulsivos, deficiências cognitivas e outros danos relacionados ao uso do medicamento. Ele destacou que a cirurgia para remoção dos tumores pode ser complicada, e alguns casos são inoperáveis devido à localização e tamanho do tumor.
De acordo com Chris Paulos, o impacto dos efeitos adversos relatados e a duração do uso do anticoncepcional justificam o número elevado de processos individuais e a formação de uma ação coletiva contra a fabricante.
Uso prolongado eleva o risco
Uma pesquisa publicada em março de 2024 no British Medical Journal reforça a associação entre o uso prolongado do acetato de medroxiprogesterona e o desenvolvimento de meningioma. O estudo mostra que mulheres que usaram o anticoncepcional por um ano ou mais têm até cinco vezes mais risco de apresentar o tumor.
Outro estudo, conduzido por pesquisadores da Universidade do Alabama e publicado em setembro de 2024, analisou diferentes formas de administração do hormônio. A pesquisa identificou que a injeção está ligada a um aumento de 53% na probabilidade de ocorrência do tumor, enquanto a forma oral não apresentou esta associação.
Controvérsia judicial nos Estados Unidos
A Pfizer, fabricante do Depo-Provera, enfrenta várias ações judiciais movidas por pacientes que reportam efeitos adversos após o uso do anticoncepcional. Em nota ao Metrópoles, a empresa declarou que não comentaria o estudo, pois não é autora da pesquisa, mas reafirmou a confiança na segurança do medicamento.
A Pfizer destacou que o perfil de segurança do Depo-Provera está bem estabelecido, ressaltando que o produto já foi utilizado por milhões de mulheres pelo mundo e é uma opção importante para o manejo da saúde reprodutiva feminina. A bula do anticoncepcional contempla todos os possíveis eventos adversos e está alinhada às orientações das agências regulatórias do Brasil e de outros países.