No ano passado, bolsonaristas tentaram invadir local e atearam fogo em carros que estavam estacionados do lado de fora
A Polícia Federal reforçará a segurança em torno da sua sede, em Brasília, onde o ex-presidente Jair Bolsonaro vai prestar depoimento nesta quarta-feira. Ele será ouvido no inquérito que apura a destinação de presentes dados por autoridades estrangeiras ao Estado brasileiro.
Há expectativa de que aliados do ex-titular do Palácio do Planalto convoquem a militância para comparecer ao local em que ele será ouvido. No fim da noite desta terça-feira, já havia grades no entorno do prédio.
Pessoas próximas a Bolsonaro afirmam que ele deverá chegar por volta das 14 horas, acompanhado de dois advogados e da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro. O ex-presidente não pretende lançar mão do direito de ficar em silêncio, mas, sim, responder as perguntas dos policiais. Parlamentares ligados a Bolsonaro dizem que vão convocar apoiadores dele para marcar presença nas proximidades da PF, numa tentativa de demonstrar força.
A sede da PF na capital já foi atacada em dezembro do ano passado. Bolsonaristas tentaram invadi-la e atearam fogo em carros que estavam estacionados do lado de fora. Inconformados com a prisão do indígena José Tsere Xavante, apoiador do ex-presidente, os manifestantes também queimaram ônibus e caçambas de lixo no entorno do prédio naquela ocasião.
Bolsonaro será ouvido no mesmo horário que outros personagens envolvidos no caso das joias. O GLOBO apurou que ex-ajudante de ordens da Presidência Mauro Cid, o assessor Marcelo Câmara e o ex-chefe da Receita Federal Julio Cesar Gomes também vão prestar depoimento à PF em Brasília a partir das 14h30.
Entenda o caso das joias
A PF instaurou um inquérito após o jornal “O Estado de S. Paulo” revelar que uma comitiva do governo, liderada pelo então ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, tentou trazer ao Brasil em outubro de 2020 com um conjunto de joias, avaliadas em R$ 16,5 milhões, que não foram declarados à Receita. Ele havia viajado à Arábia Saudita para representar Bolsonaro.
O material foi dado de presente por autoridades daquele país ao Estado Brasileiro e, como não haviam sido declarados ao Fisco, foram retidos na alfândega do Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo. Na ocasião, Bento Albuquerque teria argumentado aos servidores da Receita que as joias seriam dadas a Michelle Bolsonaro. O próprio ex-presidente já admitiu que pretendia ficar com os bens.
Antes de deixar o poder, Bolsonaro incorporou ao seu acervo pessoal um segundo pacote de joias composto por relógio caneta, anel abotoaduras e um masbaha. O presente também foi trazido ao Brasil pela comitiva liderada pelo ex-ministro Bento Albuquerque — e não foi declarado à Receita.
Após analisar o caso, o Tribunal de Contas da União (TCU) determinou a devolução tanto desse pacote quanto do outro avaliado em R$ 16,5 milhões, pois não poderiam se considerados itens personalíssimos devido ao alto valor.
Nesta semana, o jornal O Estado de S. Paulo revelou a existência de um relógio da marca Rolex, de ouro branco, cravejado de diamantes, ofertado pelos sauditas a Bolsonaro durante uma viagem oficial a Doha, no Catar, e em Riade, na Arábia Saudita, entre os dias 28 e 30 de outubro de 2019. Na ocasião, o então presidente participou de um almoço com o rei Salman Bin Abdulaziz Al Saud.
No mês seguinte, o Gabinete Adjunto de Documentação Histórica da Presidência incorporou os bens ao acervo privado de Bolsonaro. O terceiro conjunto de joias do regime da Arábia Saudita, avaliado em cerca de R$ 500 mil, foi entregue ontem à Caixa Econômica Federal, em Brasília.