As autoridades angolanas notam que neste ano o interesse dos investidores russos pelo país africano cresceu. Ao mesmo tempo, Luanda, apesar da pressão dos países ocidentais, não vai desistir dos projetos na área do petróleo e gás acordados com a Rússia, afirmou em entrevista à Sputnik o embaixador de Angola em Moscou, Augusto da Silva Cunha.
Conforme disse o embaixador, Angola sempre assumiu uma posição de neutralidade em relação às sanções impostas à Rússia. O presidente angolano, João Lourenço, afirmou, em conversa com seu homólogo russo, Vladimir Putin, que o conflito entre a Rússia e a Ucrânia deve ser resolvido por via pacífica, relembrou.
Os EUA estão tentando ativamente influenciar os maiores produtores de petróleo a introduzir um limite de preços do recurso exportado pela Rússia. Augusto da Silva Cunha aponta que, recentemente, o presidente Biden visitou a Arábia Saudita na tentativa de promover seus interesses.
“Angola é membro da OPEP e está sujeita ao cumprimento das decisões desta organização, ainda que tenha uma posição contrária”, disse.
Mas na última reunião da OPEP+, onde a Rússia também está presente, a organização decidiu pelo aumento da produção de petróleo, o que foi acordado em resposta ao consumo elevado.
“Penso que todas as medidas que se empreenderam para prejudicar a Rússia nesse aspecto, por enquanto não estão a ser conseguidas. Vemos que os países que impõem sanções contra a Rússia ainda não estão a conseguir o efeito desejado. E agora vemos o que acontece na Europa Ocidental: os preços nos produtos básicos estão a aumentar, há restrições ao uso da energia”, aponta o alto diplomata, afirmando que até agora a Europa parece sofrer com as sanções mais do que a Rússia.
Quanto ao efeito das sanções sobre o investimento russo na indústria petrolífera angolana, segundo Augusto da Silva Cunha, esse investimento continua entrando em Angola através das empresas russas Alrosa e Lukoil, que têm participações nas concessões petrolíferas de Angola. Existem ainda projetos e acordos em desenvolvimento com consórcios russos, até um projeto de fornecimento de gás natural para produção de amônia e ureia, com previsão para início em 2026.
“As empresas russas têm as mesmas chances de competir em Angola que outras empresas, seja de que latitude geográfica vierem”, ressaltou o embaixador.
Satélite AngoSat-2
O diplomata também revelou que está previsto para este ano o lançamento do satélite AngoSat-2 construído pela Rússia para o país. A parte russa cumpriu os prazos e, segundo ele, “não temos informações contrárias que impeçam pôr [o satélite] em órbita neste ano”.
Durante o lançamento do AngoSat-1, em dezembro de 2017, em Angola já estavam criadas as melhores condições com a construção de uma plataforma em terra com um centro de controle de voo e controle de satélites, tendo também sido preparada a gestão logística para esse grande empreendimento.
O projeto “é um dos grandes desafios de Angola, ao dar mais passos nesta área do desenvolvimento que é a indústria espacial”, afirmou o embaixador.
De acordo com suas palavras, a colocação em órbita do satélite terá como objetivos a melhoria das telecomunicações, suporte à Internet de banda larga, apoio à medicina, agricultura, indústria e outros setores. O projeto permitirá fortalecer a economia nacional do país, bem como melhorar o sistema de segurança nacional no que se refere ao melhor controle das fronteiras terrestres e marítimas e ainda no apoio às ações de busca e salvamento.