Muitos que sofrem de enxaqueca crônica recorrem a analgésicos para aliviar rapidamente a dor, mas pesquisas recentes indicam que o uso excessivo desses medicamentos pode agravar as crises. Um estudo divulgado no The Journal of Headache and Pain demonstrou que o consumo frequente de analgésicos está associado a modificações em áreas do cérebro relacionadas à memória, controle motor e percepção visual.
Sintomas comuns da enxaqueca
- Dor intensa e pulsante em partes da cabeça, acompanhada por náuseas e vômitos.
- Sensibilidade aumentada a luz, sons e cheiros.
- Visão borrada em alguns casos.
- Episódios de aura com pontos de luz ou manchas escuras no campo visual.
- Formigamento e dificuldade para falar também podem ocorrer.
Estudo cerebral em pacientes com enxaqueca
Pesquisadores da China avaliaram imagens cerebrais de 63 mulheres divididas em três grupos: com enxaqueca crônica, com enxaqueca devido ao uso excessivo de medicamentos e um grupo saudável. Utilizando ressonância magnética multimodal, foram encontradas diferenças significativas.
Nas pacientes que abusavam de analgésicos, foi observado um volume reduzido da substância cinzenta no giro para-hipocampal esquerdo, área ligada à memória e emoções, e no giro occipital médio direito, responsável pela atenção visual. Também houve diminuição da integridade da substância branca e redução da atividade no putâmen, que está relacionado ao controle dos movimentos e aprendizado.
Dr. Tiago de Paula, neurologista especialista em cefaleia e membro da International Headache Society e da Sociedade Brasileira de Cefaleia, explica que “esses remédios não combatem efetivamente a enxaqueca e, quanto mais usados, menos funcionam, aumentando a dor. Isso é conhecido como cefaleia por uso excessivo de medicamentos”.
Quando o remédio se torna o problema
O estudo demonstrou que o uso demasiado de analgésicos está ligado a uma atividade exagerada entre o putâmen e outras regiões cerebrais, como o lobo frontal e o giro cingulado. Essa atividade excessiva pode perpetuar ou intensificar as crises dolorosas.
Dr. Felipe Brambilla, intensivista e especialista em enxaqueca, detalha: “o uso frequente, especialmente de analgésicos de ação rápida, pode sensibilizar o cérebro à dor, agravando a condição”.
Ele recomenda limitar a utilização desses medicamentos a no máximo duas ou três vezes por semana. Se as crises ocorrem mais de quatro a cinco dias por mês, é fundamental iniciar um tratamento preventivo, que pode envolver remédios específicos, mudanças no estilo de vida e terapias complementares, sempre adaptadas a cada paciente.
Plano e acompanhamento são essenciais
Além de alertar para os perigos do uso excessivo de analgésicos, o estudo oferece insights sobre os mecanismos cerebrais da enxaqueca crônica, abrindo portas para diagnósticos e tratamentos mais eficazes.
Dr. Tiago de Paula acrescenta que alterações no putâmen podem estar ligadas à intensificação da dor e à dependência de analgésicos, sendo possível que isso sirva como biomarcador da condição.
Ele ressalta ainda que o uso prolongado desses medicamentos pode reduzir a eficácia de tratamentos de primeira linha, como a toxina botulínica e os medicamentos monoclonais anti-CGRP, que atuam contra a sensibilidade do cérebro à dor e à inflamação causada pela enxaqueca.
Os especialistas concordam que a enxaqueca crônica é uma condição multifatorial e deve ser tratada considerando alimentação, sono, estresse, hidratação e atividade física.
Dr. Tiago de Paula conclui: “o acompanhamento médico contínuo é fundamental; não basta usar o remédio apenas quando a dor aparece e esperar que tudo se resolva”.