Com imagens arranhadas após investigações e até prisões, nomes como Jucá, Delcídio e Cândido Vaccarezza investem em mudanças no visual, postura de ‘influencer’ e discurso contra polarização
Chamuscados pela Operação Lava-Jato, caciques da política nacional derrotados nas urnas em 2018 se preparam para voltar repaginados nas eleições deste ano. Para se distanciar de erros do passado e do desgaste acumulado, nomes como o ex-senadores Eunício de Oliveira (MDB), Delcídio Amaral (PTB) e Romero Jucá (MDB), o ex-deputado Cândido Vaccarezza (Avante) e o ex-governador Marconi Perillo (PSDB) aproveitam o enfraquecimento da operação para apostar em reposicionamentos políticos e, em alguns casos, mudanças cosméticas na forma como se apresentam ao eleitorado.
Ex-líder do governo Dilma, Delcídio tenta virar uma espécie de “influencer” nas redes sociais, comentando de assuntos políticos e desempenho da seleção brasileira a séries e filmes de TV.
— Eu queria indicar duas séries pra gente curtir. A primeira é La Casa de Papel. (…) Simplesmente espetacular. E a outra é o resumo da Fórmula-1 de 2021.(…) Também imperdível — recomendou ele em vídeo postado, no início de janeiro, que encerra com a hashtag #euvoltei.
Após delatar esquemas de corrupção nas gestões Lula e Dilma, o senador deixou o PT e se filiou ao PTB, do ex-deputado Roberto Jefferson, passou a se dizer conservador e diz não ver problemas em dividir o palanque com o presidente Jair Bolsonaro (PL). Ele pretende se candidatar à Câmara.
Sem barba e sem bigode
Ex-líder dos governos FHC, Lula e Dilma e ex-ministro do Planejamento de Michel Temer, Romero Jucá é outro que tem investido nas redes sociais. Tirou o tradicional bigode para dar uma rejuvenescida e passou a gravar tutoriais na internet para explicar “o que faz um prefeito”, “o que é uma emenda parlamentar”, “como funciona o orçamento”. Em vídeo divulgado na última semana, ele dá uma aula do “que fazer para ser um candidato nas eleições”.
Ao GLOBO, Jucá declarou que vê em 2022 uma “dinâmica diferente” e que está se preparando para se eleger ao Senado por Roraima.
— Cada eleição tem uma dinâmica diferente. A de 2018 foi baseada na antipolítica. A desse ano ainda está em aberto — disse Jucá, que chama de “factóides” os inquéritos de que foi alvo.
Colega de sigla de Jucá e ex-presidente do Senado, Eunício de Oliveira busca o apoio do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para disputar o governo do Ceará. Um plano B já traçado por ele é tentar vaga na Câmara dos Deputados, da qual aspira ser presidente.
Assim como Jucá e Delcídio, Eunício foi citado em delações da Odebrecht, mas viu o inquérito ser arquivado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no fim de 2020. Em 2018, ele perdeu a disputa ao Senado e deixou até a barba crescer para não ser identificado na rua, segundo conta hoje em tom bem humorado.
Agora, de barba feita, diz que a eleição deste ano vai passar a Lava-Jato a limpo.
Outro que voltou a respirar ares da política é o ex-deputado Cândido Vaccarezza, ex-líder dos governos Lula e Dilma. Ele vem dando expediente como médico ginecologista em clínicas de São Paulo desde a derrota nas eleições de 2018. Um dos fundadores do PT na Bahia, Vaccarezza agora defende uma alternativa à polarização entre Lula e Bolsonaro e articula sua própria campanha a deputado federal.
— A população tende a querer candidatos com experiência. Na última eleição, eu não fui muito bem porque teve toda a movimentação (da Lava- Jato) contra mim, de forma inadequada e ilegal — disse ele, que chegou a ser preso por cinco dias em 2017.
A lista de políticos que planejam nova chance em 2022 inclui o ex-governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), citado em delações da Odebrecht, e que avalia se concorre ao Executivo estadual ou ao Congresso; e o ex-presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT), condenado no mensalão, com pena perdoada pelo STF em 2016.