Na 14ª etapa regional do Circuito de Ciências da Secretaria de Educação do Distrito Federal, os estudantes do sistema prisional do DF participaram pela primeira vez, mostrando que a ciência pode ser uma ferramenta importante para a ressocialização.
Os alunos do Centro Educacional (CED) 01 de Brasília estudam dentro da Penitenciária IV (PDF-IV), no Complexo da Papuda, e estão matriculados no último segmento da Educação de Jovens e Adultos (EJA). Eles criaram dois projetos focados em tratar e purificar a água, apresentados na etapa regional da Coordenação Regional de Ensino (CRE) do Plano Piloto.
O primeiro projeto, Moringa Oleifera, uma Alternativa para o Tratamento da Água, desenvolvido por cinco alunos, investiga o uso das sementes da moringa oleifera como um agente natural que ajuda a limpar a água, substituindo produtos químicos. Gabriela Cristiana Oliveira, professora que trabalha há sete anos no CED 01 e no complexo penitenciário, explica que a moringa oleifera tem substâncias que ajudam as partículas de sujeira a se aglutinarem e se depositarem no fundo da água.
O segundo projeto, Ciência e Cidadania na EJA: Filtro Caseiro e SODIS para a melhoria da qualidade da água, criado por cinco estudantes da segunda etapa da EJA, sugere soluções simples para filtrar água usando materiais fáceis de encontrar, como pedra, carvão, areia e garrafas PET.
Superando desafios com criatividade
Por questões de segurança da penitenciária, o uso de objetos cortantes, produtos químicos perigosos ou materiais perfurantes foi proibido, mas os alunos conseguiram realizar experiências. No projeto da moringa, eles moeram as sementes manualmente e observaram a limpeza da água após duas horas.
Luciana Moreira Braga, professora com 14 anos de experiência na rede de ensino, comenta que foi necessário escolher um tema que pudesse ser realizado dentro da unidade, respeitando as regras de segurança.
Ciência para a ressocialização
Marina da Costa, Gabriela Oliveira e Luciana Braga foram as professoras responsáveis por orientar os projetos, que trouxeram uma experiência transformadora. Marina Ribeiro da Costa, atuando no sistema desde 2019, relata que ver os experimentos em ação foi muito gratificante.
Como os alunos não puderam estar presentes na etapa regional, as professoras os representaram durante a apresentação, mostrando os resultados alcançados inteiramente dentro da penitenciária. Gabriela Oliveira destaca que os estudantes ficaram muito animados, ansiosos e nervosos, e que foi importante oferecer essas emoções a eles.
O projeto contou com o apoio da direção da PDF-IV e da equipe gestora do CED 01 de Brasília. A diretora da unidade escolar, Telma Cristiane de Almeida, ressalta que a participação ajudou os alunos a sentirem que pertencem e que têm os mesmos direitos dos estudantes de outras escolas.
Gabriela Oliveira enfatiza que o objetivo é usar a ciência e a educação para a ressocialização, mostrando aos alunos que eles podem usar o conhecimento para melhorar a vida das pessoas e transformar sua comunidade.
Perspectivas para o futuro
Essa experiência é ainda mais importante considerando a situação da educação nas prisões do DF. Dos quase 17 mil presos na capital, mais de 10 mil não terminaram a educação básica. Entre 2.100 e 2.400 presos recebem ensino pela EJA a cada semestre.
O Distrito Federal é destaque no país na ampliação da educação prisional. Em 2024, com um aumento de 40% nas vagas educacionais, o DF subiu do 8º para o 3º lugar nesse ranking nacional.
Informações da Secretaria de Educação do Distrito Federal.