No Distrito Federal, atualmente 1.744 pessoas estão na fila aguardando um transplante de órgão ou tecido, conforme dados da Secretaria de Saúde do DF. A burocracia, como questões logísticas e a compatibilidade dos órgãos, é um desafio, mas o maior obstáculo é a recusa das famílias em autorizar a doação. No primeiro semestre deste ano, a taxa de recusa no DF ficou em 46%, similar à média nacional de 45%. Estados como Tocantins, Goiás, Amazonas e Mato Grosso registram taxas ainda maiores.
Este ano, já foram feitos 631 transplantes na capital, com o Instituto de Cardiologia e Transplantes do Distrito Federal (ICTDF) liderando com 192 procedimentos. Segundo Rafael Costa Filgueiras, enfermeiro supervisor do programa de transplantes do ICTDF, fatores como crenças religiosas e a forma como o paciente foi tratado em vida influenciam a decisão das famílias. Além disso, a desinformação sobre o processo de doação contribui para a recusa, motivo pelo qual campanhas de conscientização contínuas são necessárias.
Como funciona o processo de doação
O processo começa com o diagnóstico de morte encefálica confirmado por exames. A família é então informada sobre o falecimento e a possibilidade de doação. Com a aprovação, o órgão doador passa por exames e uma auditoria, e o caso é encaminhado à Central Estadual para oferta aos centros de transplante do país. A logística envolve autoridades como a Força Aérea, Corpo de Bombeiros e Detran, considerando o tempo em que o órgão pode ficar sem fluxo sanguíneo ou oxigênio. Desde 2007, o ICTDF já realizou mais de 2.800 procedimentos, sendo referência nacional.
André Watanabe, coordenador de transplante de fígado do Hospital Brasília, destaca que em 2024 o DF bateu recorde de transplantes de fígado, com 85% dos órgãos vindos de outros estados, indicando grande esforço para realizar os procedimentos.
Impactos da burocracia na doação
Rosemeire Félix, doadora, relata o caso de uma amiga que não pôde doar órgãos por causa de burocracia hospitalar. A amiga, Vera Leatriz, era saudável e adepta da doação, mas enfrentou dificuldade para realizar a doação após a morte. A família ainda teve gastos altos com a internação após a recusa da doação.
Há também casos de pessoas que gostariam de doar, mas não podem por questões médicas, como Thais Souza, que teve problemas de saúde e desconhece o processo de doação.
Uma nova chance: o transplante de fígado de um brasiliense
Leonardo Arantes enfrentou uma infância difícil devido à hepatite e cirrose. Em 2023, entrou na fila para transplante de rim, mas estava muito debilitado quando encontrou um doador compatível. Após o transplante, enfrentou desafios para recuperar sua força e mobilidade com ajuda de fisioterapia e fonoaudiologia.
Hoje, Leonardo lembra que sua família mudou completamente a visão sobre doação e todos se tornaram doadores. Ele deixa um apelo à população para conversarem sobre a doação com seus familiares e destacam que doar é um gesto simples que pode salvar vidas.
