Após a detenção de Jair Bolsonaro (PL), a oposição voltou a questionar as eleições de 2022, com base em alegações feitas por Mike Benz, antigo funcionário do Departamento de Estado dos Estados Unidos. Benz, que atuou como secretário para comunicações internacionais e política de informação, foi ouvido pela Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara dos Deputados (Creden) na última quarta-feira (6/8).
Durante a audiência, Benz repetiu as acusações sobre uma suposta interferência dos Estados Unidos na última eleição presidencial brasileira, na qual Bolsonaro foi derrotado por Luiz Inácio Lula da Silva.
Acusações de interferência no Brasil
Nos primeiros dias do segundo mandato de Donald Trump, a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (Usaid) foi alvo de críticas do bilionário Elon Musk. O então presidente dos EUA também endossou essa retórica, qualificando a Usaid como composta por "radicais de esquerda". A agência foi acusada de tentar influenciar as eleições presidenciais no Brasil e acabou sendo extinta pela administração Trump.
Conteúdo da audiência
Em um depoimento que durou mais de quatro horas, Mike Benz acusou o governo de Joe Biden de utilizar mecanismos estatais para interferir no cenário político brasileiro. Segundo ele, o governo americano aumentou seus investimentos no Brasil, por meio da Usaid, logo no início do governo Bolsonaro, com o objetivo de desestabilizar o presidente e impedir sua reeleição.
Além da Usaid, Benz mencionou o Departamento de Estado dos EUA, a Agência Central de Inteligência (CIA), o Partido Democrata e outras organizações como participantes do suposto esquema.
Ele também alegou que o controle do discurso político no Brasil passava pelo financiamento americano a agências locais de checagem de fatos, justificativas para censurar Bolsonaro e seus aliados.
O ex-funcionário americano também acusou o ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), de ter ciência da interferência e manter contato direto com autoridades americanas a respeito do assunto. Entre 2020 e 2022, Barroso presidiu o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e esteve envolvido na organização da última eleição presidencial.
Na proximidade do pleito, Bolsonaro e seus apoiadores espalharam informações falsas tentando desacreditar o sistema eleitoral, fato que contribuiu para torná-lo inelegível posteriormente.
Em maio deste ano, Barroso confirmou ter solicitado apoio dos Estados Unidos antes da eleição de 2022, destacando que esse gesto foi fundamental para a manutenção da institucionalidade democrática brasileira.
Esclarecimentos e desdobramentos
Até agora, não foram apresentadas provas concretas da alegada interferência americana nas eleições brasileiras. Mike Benz trouxe à audiência um conjunto de slides, mas não forneceu documentos comprobatórios da acusação.
Mesmo assim, a oposição sinalizou que pretende usar esta audiência para questionar a legitimidade do pleito de 2022 e fortalecer a defesa de Bolsonaro.
O presidente da Creden, deputado Filipe Barros (PL), anunciou que irá trabalhar pela criação de uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) para investigar os valores investidos pela Usaid no Brasil.
Além disso, Filipe Barros prometeu apoiar um Projeto de Lei que vise impedir investimentos estrangeiros em organizações não governamentais brasileiras e avaliar a possibilidade de anular o registro do Partido dos Trabalhadores (PT).
Na visão do parlamentar, a coligação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva teria se beneficiado do suposto financiamento norte-americano, o que seria proibido pela legislação eleitoral vigente.