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segunda-feira, 20/10/2025

Aliados de Bolsonaro tentaram negociar com STF por meio de Tarcísio antes da prisão domiciliar

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BRUNO RIBEIRO
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

Auxiliares do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) estavam tentando apresentar uma proposta ao Supremo Tribunal Federal (STF) para evitar a sua prisão, usando o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), como intermediário. Entretanto, Tarcísio hesitou em aceitar essa função.

A intenção era comunicar aos ministros do Supremo que o grupo bolsonarista desistiria de derrubar a inelegibilidade de Bolsonaro, que vai até 2030 por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Em troca, o STF não interferiria em um projeto de anistia ao Congresso que tenta anular as acusações relacionadas à tentativa de golpe e os atos do dia 8 de janeiro de 2023.

O grupo queria desviar o foco das eleições de 2026 e criar um clima de paz junto à Corte, buscando conter os impactos da crise política que afetaram o país, como aumento de tarifas para produtos brasileiros nos Estados Unidos e sanções contra o ministro Alexandre de Moraes.

Na semana passada, os bolsonaristas tentaram envolver Tarcísio nas negociações devido ao seu bom relacionamento com o STF, mas ele evitou o envolvimento. Tarcísio disse que precisava da aprovação direta de Bolsonaro e seus aliados para agir assim, o que não percebeu. Ele também mencionou que uma tentativa recente de mediação em nome do ex-presidente foi mal recebida, o que o deixou cauteloso.

Essa tentativa anterior envolvia requisitar o passaporte de Bolsonaro para que ele pudesse viajar aos Estados Unidos e tentar reverter as tarifas anunciadas no mês anterior. Tarcísio nega ter feito o pedido, afirmando apenas ter sondado possibilidades, e temia que uma nova aproximação fosse novamente mal interpretada.

Embora não desejasse protagonismo na negociação, Tarcísio reconhecia a necessidade de um acordo pacífico, principalmente por causa dos prejuízos econômicos causados pela crise com o governo Trump, incluindo risco de perda de milhares de empregos e necessidade de ajuda financeira a exportadores.

Até o início da semana, Tarcísio tinha agenda para participar de evento em Brasília com a presença do ministro Gilmar Mendes. O entorno do ex-presidente esperava que esse evento servisse para abrir espaço para um entendimento, mesmo que não estivesse previsto um encontro privado entre eles.

Na semana passada, dirigentes do PL já haviam tentado aproximação com o ministro Gilmar Mendes em reunião na casa do ex-presidente da Câmara, Rodrigo Maia. Entretanto, a iniciativa foi mal recebida, considerada contraproducente.

Tarcísio também informou seus auxiliares que tentava se encontrar com Bolsonaro ao menos uma vez por mês. Com a prisão domiciliar imposta pelo ministro Moraes, esses encontros agora precisam de autorização prévia do STF.

Após a decisão da prisão domiciliar, Tarcísio comentou nas redes sociais que a prisão é um absurdo, afirmando que Bolsonaro já foi condenado antes de qualquer acusação.

No protesto bolsonarista na avenida Paulista, mesmo sendo criticado pelo pastor Silas Malafaia pela ausência, dirigentes do PL acharam positiva a postura moderada de Tarcísio em relação à manifestação, devido à sua posição esperada pelo grupo.

O plano original do grupo era tentar evitar a prisão do ex-presidente pela condenação no inquérito da trama golpista, mas não consideraram que a participação de Bolsonaro no ato, por intermédio do seu filho senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), poderia levar a uma prisão domiciliar preventiva como a ocorrida.

Bolsonaro tem apresentado problemas de saúde descritos como fragilidade, possivelmente ligados às sequelas da agressão que sofreu em 2018, que o impedem de falar em algumas ocasiões e causam desconforto.

As negociações foram feitas afastadas do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP). Uma parte do PL e Tarcísio preferem distância de Eduardo devido ao seu envolvimento nas tensões com o governo Trump e o ministro Moraes.

No protesto da Paulista, Eduardo Bolsonaro foi defendido por discursos, mas parte do bolsonarismo acredita que ele deve ficar isolado para não prejudicar o grupo.

Aliados têm tentado aproximar Tarcísio e Eduardo Bolsonaro, inclusive oferecendo um encontro nos Estados Unidos, que Tarcísio tem recusado, incerto sobre a receptividade de Eduardo.

O projeto de anistia enfrenta pressões da base bolsonarista no Congresso, e reduzir a resistência no STF facilitaria sua aceitação. No entanto, há dúvidas se crimes como tentativa de golpe podem ser anistiados, e ministros do STF poderiam vetar a medida.

Qualquer negociação com aliados de Bolsonaro enfrenta forte resistência no STF devido aos conflitos atuais, mas bolsonaristas veem Tarcísio como interlocutor moderado ideal para tentar um acordo.

A prisão de Bolsonaro ocorreu por suspeitas relacionadas a coação e obstrução em investigações feitas por Eduardo Bolsonaro no exterior, e não pelo inquérito da tentativa de golpe.

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