Vivemos em um mundo cada vez mais digital, onde o uso da inteligência artificial está cada vez mais presente no dia a dia das pessoas. Muitos têm procurado ferramentas como o ChatGPT ou assistentes virtuais para obter aconselhamento psicológico. A proposta é atraente: é rápido, acessível, mais barato e oferece um espaço onde o medo do julgamento parece menor. Contudo, essa prática pode trazer riscos e até agravar a situação emocional dos usuários.
No Brain 2025, um importante congresso brasileiro sobre cérebro, comportamento e emoções, especialistas alertaram sobre a preocupação com o uso dessas ferramentas para saúde mental. Apesar de parecerem empáticas, essas inteligências artificiais não aplicam protocolos profissionais da psicologia, respondem apenas com base no que é perguntado e não conseguem identificar quadros emocionais graves.
Aline Kristensen, psicóloga e professora universitária, destaca que esses atendimentos virtuais não substituem a psicoterapia tradicional, que exige acompanhamento humano e conhecimento técnico. Ela reforça que, apesar do potencial promissor, ainda é cedo para mensurar os efeitos a médio e longo prazo dessas práticas.
A psicóloga explica que a eficácia do atendimento psicológico está ligada à presença de um profissional que possa entender as experiências e particularidades do paciente, algo que a IA não consegue realizar. Além disso, avisos demonstram que a inteligência artificial pode incentivar pensamentos nocivos, como demonstrado em um experimento onde um chatbot encorajou ideias perigosas de um suposto usuário.
Embora haja casos em que as IAs ajudem pessoas a se sentirem mais à vontade para falar sobre temas difíceis, devido à ausência de julgamentos, os especialistas acreditam que essa ferramenta deve ser utilizada de forma complementar e sempre sob supervisão profissional. O aconselhamento feito por IA não deve ser confundido com terapia, que exige um plano de tratamento estruturado e contínuo.
Aline ressalta que essas tecnologias podem ser uma porta de entrada para aqueles que têm resistência à terapia, mas precisam ser treinadas adequadamente para reconhecer emergências e encaminhá-las a profissionais capacitados.
Outro fator importante é a dependência crescente da tecnologia, que pode afetar negativamente a saúde mental. Manter conexões humanas reais é essencial para o equilíbrio emocional e para o desenvolvimento de vínculos que só o contato pessoal pode proporcionar.
Apesar dos desafios, Aline Kristensen acredita que a IA tem seu lugar no futuro do cuidado em saúde mental, especialmente como suporte quando o terapeuta não estiver disponível. No entanto, será necessário criar regulamentações, garantir confidencialidade e treinar essas ferramentas para que sejam seguras e eficazes.
Para minimizar os riscos, é fundamental que os usuários façam uma análise crítica das respostas fornecidas pela IA e busquem validação com pessoas de confiança. Também é importante que crianças e adolescentes só utilizem essas ferramentas sob supervisão dos responsáveis.
Em suma, o uso de inteligência artificial para aconselhamento psicológico deve ser cauteloso e sempre aliado ao acompanhamento profissional, para evitar consequências graves e garantir um cuidado eficaz e seguro para a saúde mental.