NICOLA PAMPLONA
RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS)
O governo criou um plano para ajudar as empresas brasileiras afetadas pela cobrança de uma tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos, durante o governo de Donald Trump. Esse plano vai dar prioridade para dar crédito a juros baixos para as empresas que tiveram uma queda no faturamento superior a 5% por causa da interrupção das exportações.
Empresas com perdas menores ou que sofreram cobranças mais baixas também poderão pegar empréstimos, porém com juros maiores. O BNDES vai oferecer ainda garantias para micro e pequenas empresas que precisarem desses empréstimos.
Chamado de Plano Brasil Soberano, o pacote contempla uma linha de crédito de até R$ 30 bilhões, além de adiamento de impostos federais, maiores ressarcimentos de créditos tributários e melhorias nas garantias para facilitar novas exportações.
O BNDES informou que disponibilizará R$ 22,5 bilhões em garantias, que dependem da aprovação do Congresso para que o dinheiro não seja retirado do superávit primário. Além disso, serão disponibilizadas duas novas linhas emergenciais de crédito no total de R$ 10 bilhões.
As linhas com juros incentivados terão taxas entre 0,66% e 0,82% ao ano, prazo de cinco anos e carência de um ano, sendo destinadas a empresas que tiveram queda superior a 5% na receita devido à interrupção das vendas para os EUA.
As empresas que receberem os recursos terão que manter o número de funcionários, calculado com base na média dos 12 meses anteriores a junho de 2025. O contrato terá uma carência inicial de quatro meses, mas a média de empregados deverá ser recuperada entre o quinto e o décimo segundo mês do financiamento.
Outras duas linhas emergenciais serão disponibilizadas para empresas com perdas menores ou afetadas por tarifas menores, com juros de 1,15% ao mês mais taxas bancárias ou atrelados ao dólar. Essas linhas usarão recursos captados pelo BNDES por meio de Letras de Crédito do Desenvolvimento (LCDs).
O presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, disse que esse modelo de ajuda é baseado na experiência de apoio emergencial a empresas atingidas pelas enchentes históricas ocorridas no Rio Grande do Sul em abril e maio de 2024.
Mercadante afirmou que espera aprovar os primeiros financiamentos a partir do dia 15 de setembro, começando com o recebimento de listas das empresas qualificadas. Ele recomendou que as empresas afetadas procurem seus bancos o quanto antes para acelerar as aprovações.
As indústrias de madeira, calçados e armamentos, que estão enfrentando queda nas vendas por causa do tarifaço, têm adotado férias coletivas para reduzir custos e esperam o apoio do governo para evitar demissões em massa.
Na quarta-feira (20), o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSD) declarou que o Brasil continuará tentando negociar com os Estados Unidos contra essa tarifa de 50%.
“Vamos continuar negociando permanentemente”, disse Alckmin em entrevista à jornalista Miriam Leitão, na GloboNews. “O Brasil está sendo injustiçado. Precisamos separar questões políticas e jurídicas. No Estado de Direito, os poderes são independentes”.
Ele reafirmou que não há justificativa para essa taxação e destacou que o Brasil é um dos poucos países do G20 que tem superávit comercial com os EUA, junto com Reino Unido e Austrália.