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quinta-feira, 07/08/2025

Ajuda aérea não resolve crise alimentar em Gaza

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Diante da intensificação da crise de fome em Gaza, Israel permitiu que diversas nações realizassem lançamentos aéreos de alimentos no território palestino. Aviões dos Emirados Árabes Unidos, Jordânia, Egito, Alemanha, Bélgica e Canadá lançaram 120 fardos de ajuda na segunda-feira (4/8), conforme informado pelas Forças de Defesa de Israel (FDI).

No dia seguinte, o governo israelense anunciou uma autorização parcial para a entrada de mercadorias destinadas ao comércio interno em Gaza, por meio de fornecedores locais, buscando diminuir a dependência da ajuda humanitária.

No entanto, palestinos e organizações humanitárias afirmam que a quantidade de alimentos que chega, seja pelo ar ou terra, é insuficiente para conter a crise de fome e não é distribuída de forma equitativa entre a população.

Philippe Lazzarini, comissário-geral da Agência das Nações Unidas para Refugiados Palestinos (UNRWA), destacou que lançamentos aéreos têm custos muito superiores aos de caminhões, sendo que um caminhão carrega o dobro de alimentos comparado a um avião.

Disputa e desafios na distribuição dos alimentos

Autoridades palestinas e da ONU estimam que Gaza necessita de cerca de 600 caminhões de ajuda diariamente para suprir as necessidades humanitárias.

Diaa al-Asaad, pai de seis filhos e deslocado dentro de Gaza, relatou que a ajuda aérea alcança principalmente os mais fortes e que uma distribuição justa é necessária para toda a população.

Ele também apontou que muitos pontos de lançamento estão situados em áreas militarizadas, apontadas como ‘zonas vermelhas’ sob controle israelense, dificultando o acesso seguro aos alimentos.

Majed Ziad, residente do campo de refugiados de Nuseirat, afirmou que a solução não é lançar comida do céu, mas garantir um acesso digno e regular à alimentação para a população.

O Exército israelense anunciou pausas táticas no conflito para permitir a passagem de comboios de ajuda humanitária em algumas áreas, entretanto, os veículos terrestres enfrentam atrasos e riscos significativos, com caminhões demorando horas para percorrer curtas distâncias.

Além disso, saqueadores e mercados ilegais comprometem a entrega final dos alimentos às famílias necessitadas. Israel acusa o Hamas pelos desvios e usa isso para justificar o corte do fornecimento no início do conflito. O Hamas é classificado como grupo terrorista por diversos países.

Impactos na população e agravamento da crise

Dalia al-Affifi, mãe de dois filhos, contou que a maior parte da ajuda não chega às famílias comuns, enquanto os preços de alimentos básicos, como a farinha, aumentaram significativamente, tornando-os inacessíveis para muitos.

A escassez extrema atinge os mais de 2 milhões de habitantes de Gaza, já que a produção local de alimentos foi quase totalmente destruída pelos ataques.

Autoridades e agências especializadas alertam que a região está à beira de uma fome generalizada, com a situação se agravando mês a mês.

A Classificação Integrada de Fases da Segurança Alimentar (IPC), ligada à ONU, destacou que o cenário mais crítico de fome está se tornando realidade.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) indicou um aumento significativo nas mortes de crianças por desnutrição recentemente.

Mesmo sob pressão internacional, o governo israelense, apesar de limitar o bloqueio e permitir ajuda com restrições, transferiu a distribuição para locais controlados pela Fundación Humanitária de Gaza (GHF), apoiada por Israel e Estados Unidos. Esses locais têm sido palco de tumultos e tragédias, com centenas de mortos em filas e pontos de entrega, segundo autoridades locais.

O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu nega que haja fome generalizada em Gaza, contradizendo informações de múltiplas fontes locais. O governo rejeita acusações de que provoque intencionalmente a fome.

Necessidade de rotas terrestres seguras

Especialistas e grupos humanitários afirmam que os lançamentos aéreos devem ser usados apenas em situações de emergência extrema, quando o transporte terrestre é inviável.

Durante visita recente à região, o ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Johann Wadephul, reconheceu as limitações da ajuda aérea e pediu que Israel permita a circulação segura e rápida de ajuda humanitária e médica por rotas terrestres mais acessíveis.

Desde o início da guerra em outubro de 2023, autoridades de saúde locais vinculadas ao Hamas reportam mais de 60 mil mortos, incluindo muitas mulheres e crianças. Muitas vítimas permanecem desaparecidas sob os escombros, e as autoridades não diferenciam civis de combatentes no total de vítimas.

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