Em meio a uma crise hídrica, o Chile rediscute na constituinte o modelo que privatizou as águas no país durante a ditadura de Augusto Pinochet. A Sputnik Brasil conversou com especialistas sobre a desigualdade no acesso à água e sobre a proposta constituinte, que enfrenta um plebiscito no próximo domingo (4).
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“Algumas empresas acumulam a água em grandes piscinas através de bombeamento, e, dessa maneira, aqueles que têm acesso na primeira seção de um rio não permitem que a água chegue à seção quatro, onde se encontra a população, onde se concentra a vida”, explicou.
“É fácil encontrar essa paisagem no Chile: em direção ao morro você pode ver grandes piscinas de água e monoculturas verdes para exportação, ao lado de uma paisagem seca, marrom e desolada.”
Privatização da água: herança neoliberal da ditadura de Pinochet
“Como mercadoria, ela [a água] passou a ser vendida com a finalidade tão somente de obter lucro, e a necessidade social foi deixada de lado. Tanto que a água passou a disputar no orçamento das famílias mais pobres com outros itens de primeira necessidade como a comida”, afirma o pesquisador, acrescentando que não há uma situação semelhante no Brasil, onde propostas como essa não avançaram e a responsabilidade pela água é municipal.

Aprovação de nova Constituição seria ‘ruptura com o neoliberalismo’
“Assim, depois de quase 50 anos de neoliberalismo no Chile, não é uma questão política fácil de se resolver. Os chilenos ainda têm muita luta pela frente para virar a página do neoliberalismo. A constituinte é o passo mais importante nessa luta, pois ela recupera as noções de direitos sociais e de cidadania, busca a universalização da cidadania e prevê os direitos dos povos indígenas”, afirma o pesquisador.
Derrota da constituinte pode reacender as ruas no Chile
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“Para a comunidade organizada, para as famílias em suas casas, já não nos surpreende ou alarma o que as pesquisas podem dizer, pois sabemos da manipulação que está por trás disso. O povo é mobilizado pela realidade, e a realidade hoje nos mostra um grande triunfo da aprovação”, afirma.