A preocupação cresce entre os agricultores americanos de soja durante a época da colheita, devido às tensões comerciais entre os Estados Unidos e a China que limitam o acesso ao maior mercado mundial de oleaginosas.
Esses produtores foram diretamente afetados pela guerra comercial iniciada pelo presidente dos EUA, Donald Trump, enfrentando uma queda significativa nas compras feitas pela China.
Em resposta às tarifas dos EUA, Pequim colocou um imposto adicional de 20% sobre diversos produtos, incluindo a soja, tornando o preço do produto americano mais caro que o da América Latina, conforme a Associação de Soja dos Estados Unidos (ASA).
Como consequência, os preços da soja despencaram, segundo o agricultor Travis Hutchison, de Maryland. Apesar de prever uma boa colheita, ele não tem certeza se conseguirá um lucro suficiente este ano. Ele e sua família cultivam soja e milho em uma propriedade de cerca de 1.375 hectares.
Hutchison declara que, embora apoie a pressão sobre o governo chinês para obter melhores acordos comerciais, está frustrado com a demora para resolver a situação. Assim como muitos outros agricultores que votaram em Trump, ele está lutando para superar o impasse comercial.
Impacto e desafios financeiros
As exportações americanas para a China, que representam metade dos 24,5 bilhões de dólares em vendas de soja dos EUA, foram reduzidas em 50%, causando uma queda de 40% nos preços dos grãos.
A Argentina também suspendeu impostos de exportação sobre a soja, tornando seu produto mais atraente para os importadores chineses.
Para apoiar os agricultores, Trump prometeu que parte da receita gerada pelas tarifas seria devolvida aos produtores, embora os detalhes ainda não tenham sido revelados.
Além disso, novas tarifas chinesas sobre produtos americanos e o cancelamento de uma reunião bilateral indicam uma escalada nas tensões.
Caleb Ragland, presidente da ASA, lamenta a situação e destaca as dificuldades financeiras enfrentadas pelos produtores de soja.
Expectativas e dificuldades atuais
Hutchison considera a ajuda prometida pelo governo satisfatória, mas acredita que um acordo comercial é essencial, pois a agricultura é um compromisso de longo prazo.
David Burrier, outro produtor, prevê um ano muito difícil, esperando vender apenas 40% da sua produção ao preço de custo.
Nos estados centrais dos EUA, onde os agricultores enviam sua soja para a costa oeste [destino da exportação para a China], as dificuldades são ainda maiores. Os silos estão cheios, e os agricultores não encontram mercados alternativos.
O economista-chefe da ASA, Scott Gerlt, alerta que a atual crise é mais grave que a primeira guerra comercial entre os dois países, ocorrida há sete anos, quando os agricultores perderam 27 bilhões de dólares em exportações. Naquela época, o governo ofereceu 23 bilhões em subsídios.
Hoje, o setor enfrenta custos mais altos, devido às tarifas, especialmente nas peças para manutenção das máquinas, impactando nos resultados financeiros dos produtores.
Dados da Universidade Estadual de Iowa, coletados pelo professor Chad Hart, indicam um aumento de 50% nas falências de empresas agrícolas em comparação a 2024.
