ANA POMPEU
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS)
O advogado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Paulo Amador Cunha Bueno, negou ao Supremo Tribunal Federal (STF) que tenha tentado obter informações da delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid.
No dia 25 de outubro, o ministro Alexandre de Moraes ordenou que a Polícia Federal interrogasse Cunha Bueno e Fábio Wajngarten sobre uma suposta tentativa de conseguir dados referentes à colaboração premiada. Segundo o ministro, depoimentos enviados por Cid e seus familiares apontam para uma possível tentativa de atrapalhar as investigações relacionadas a uma organização criminosa.
Cunha Bueno faz parte da equipe de defesa de Bolsonaro no STF. Já Wajngarten também foi advogado do ex-presidente e o acompanhou até ser desligado recentemente.
De acordo com a defesa de Cid, a mãe dele, Agnes Barbosa Cid, teria sido abordada em eventos na Sociedade Hípica Paulista pelo advogado Luiz Eduardo Kuntz, que afirmou ter recebido mensagens do tenente-coronel sobre a delação, e por Bueno.
Os advogados alegam que ambos tentaram persuadir Agnes a retirar a defesa inicial do militar. Porém, Bueno confirmou ao STF que apenas teve um breve e cordial encontro com Agnes, elogiando a performance de sua neta na equitação. Ele negou qualquer conversa relacionada à delação.
Segundo a defesa, Bueno conheceu Cid em março de 2023, logo após assumir o caso das joias recebidas da Arábia Saudita. O contato foi necessário porque uma parte do processo de recebimento e catalogação de presentes oficiais estava sob a responsabilidade da pasta liderada por Cid durante o governo Bolsonaro.
A partir daí, Bueno manteve contatos ocasionais com o militar até sua prisão em maio de 2023. Os dois só se encontraram novamente em uma sessão de interrogatório relacionada à trama golpista em junho, quando Bueno limitou-se a um breve cumprimento com um aceno de cabeça.
O advogado afirma que Cid tenta criar uma versão diferente dos fatos apesar das evidências de que quebrou seu acordo de colaboração.
No mesmo processo, o coronel da reserva Marcelo Câmara, ex-assessor de Bolsonaro e réu na investigação, foi detido pela Polícia Federal em 18 de junho. A prisão aconteceu depois que Kuntz, advogado de Câmara, enviou ao STF mensagens e áudios trocados entre Câmara e Cid sobre a delação premiada.
Baseado nessas conversas, a defesa requereu a anulação da colaboração premiada. O ministro Moraes ressaltou que Câmara tinha medidas restritivas que o impediam de ter contato com outros investigados, incluindo comunicações indiretas, o que demonstra o descumprimento das regras impostas.