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sexta-feira, 05/09/2025

Acidente com bonde em Lisboa revela problemas no transporte público

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O acidente no Elevador da Glória, em Lisboa, ocorrido na noite de quarta-feira (3/9) e que resultou em 17 mortes, evidencia as falhas existentes no sistema de transporte público em Portugal.

A tragédia ocorreu possivelmente devido à ruptura do cabo que unia as duas cabines do equipamento, cuja manutenção havia sido terceirizada a uma empresa privada — uma decisão contestada há anos pelos sindicatos da Carris, companhia municipal responsável pelo transporte na capital.

A situação do transporte público em Portugal é delicada: há escassez de profissionais qualificados, salários baixos e grande parte dos empregos são precários.

A historiadora e especialista em relações de trabalho Raquel Varela, da Universidade Nova de Lisboa, afirma que o acidente expõe uma “situação absolutamente crítica” nos serviços públicos. Segundo a pesquisadora, faltam profissionais qualificados, os salários são insuficientes e há uma grande terceirização, o que compromete a segurança dos trabalhadores e dos usuários.

Raquel Varela denuncia o abandono dos transportes públicos e as condições precárias dos seus trabalhadores na cidade de Lisboa. Conforme seus estudos, existem riscos relevantes em vários setores, como portos, aeroportos (Transportes Aéreos Portugueses, TAP) e trens urbanos — o metrô de Lisboa e a empresa nacional de trens (CP).

“Desde a manutenção da TAP, no pessoal de voo e cabine. No Metro de Lisboa, nos maquinistas da CP. Em todos esses setores indicamos perigos significativos para os trabalhadores e para a população que depende desses serviços devido às condições de trabalho extremamente degradantes”, critica a especialista, mencionando jornadas que chegam a 16 horas.

Raquel Varela atribui o problema às regras da União Europeia, que dificultam a contratação de servidores públicos com salários adequados.

“A UE autoriza terceirizações, mas torna difícil a contratação de funcionários públicos com remuneração justa. Essa situação é explosiva, e a população começa a entender que o Estado, em vez de protegê-la, pode representar uma ameaça à sua segurança”, comenta Raquel Varela.

A professora também critica o baixo investimento no setor e alerta para os impactos da saída de profissionais especializados, sobretudo na área da mecânica. “É uma política criminosa de deterioração dos serviços públicos, afetando a manutenção dos transportes. É um trabalho que exige alta especialização, equipes unidas e respeito aos trabalhadores”, ressalta.

O primeiro-ministro português, Luís Montenegro, e o prefeito de Lisboa, Carlos Moedas, informaram que apuram as responsabilidades, mas ainda não há desdobramentos políticos. Para Raquel Varela, o prefeito deveria renunciar, e a direção da Carris deve ser responsabilizada criminalmente se for constatada negligência na manutenção.

“Essa tragédia vitimou o condutor e mais de uma dezena de pessoas. É um país à deriva, que põe em risco seus próprios cidadãos e visitantes — exceto os muito ricos, que utilizam motoristas e jatos privados”, conclui Raquel Varela.

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