Servidores da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) relatam estar incapazes de agir em meio à recente tensão entre Brasil e Estados Unidos, e às tentativas de Donald Trump de interferir na soberania brasileira.
Ao Metrópoles, funcionários da agência, que preferiram ficar anônimos, criticaram a precarização do órgão principal de inteligência do país.
“Em uma crise de soberania intensa, com interferência externa, assuntos que são de nossa responsabilidade, a Abin está sem condições de tomar qualquer atitude por falta de recursos”, afirmou um colaborador da agência.
Conflito Brasil x EUA
No começo de julho, Donald Trump iniciou medidas contra o Brasil.
O presidente norte-americano aplicou uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, como resposta ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Além disso, autoridades brasileiras sofreram retaliações, como a suspensão de vistos norte-americanos.
As restrições orçamentárias e as condições de trabalho na Abin têm gerado constantes queixas dos servidores. No final de 2024, a União dos Profissionais de Inteligência de Estado da Abin (Intelis) divulgou comunicado levantando pontos que podem inviabilizar as atividades do órgão. Segundo a entidade, o orçamento atual é o menor dos últimos 14 anos.
A situação da agência se agravou após sua transferência da área militar para a Casa Civil, sob comando do ministro Rui Costa, em 2023. O diretor-geral, delegado da Polícia Federal Luiz Fernando Corrêa, também é alvo de críticas.
Enquanto isso, há um conflito interno entre a Abin e a Polícia Federal, com acusações à PF de tentar assumir funções anteriormente da agência de inteligência.
Esses fatores, conforme afirmam servidores, têm dificultado qualquer ação efetiva diante da crise atual.
Sanções dos EUA contra o Brasil
Desde o início de julho, o Brasil enfrenta pressão dos EUA por meio de tarifas e sanções a autoridades brasileiras. Conforme declarado pelo presidente americano, essas medidas são uma resposta ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, acusado de tentativas de golpe em 2022.
As retaliações começaram após articulações do deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro com autoridades norte-americanas.
Desde o começo do ano, Eduardo Bolsonaro indicou que buscaria apoio de Trump para tentar interromper o processo contra seu pai no Supremo Tribunal Federal (STF). Por esse motivo, ele se afastou do mandato na Câmara dos Deputados e passou a residir nos EUA, em busca de punições contra autoridades brasileiras.
Embora o principal alvo do deputado seja o ministro Alexandre de Moraes, a ofensiva americana impactou inicialmente a economia nacional, com a tarifa de 50% sobre as exportações brasileiras para os EUA.
Algum tempo depois, Alexandre de Moraes sofreu restrições do governo americano, como a suspensão do visto e sanções previstas na Lei Magnitsky. Além dele, outros sete ministros do STF e duas pessoas ligadas ao programa Mais Médicos estão impedidos de viajar aos EUA.