Daqui a alguns anos, manadas de ‘mamutes’ lanosos podem estar vagando pela tundra siberiana. Os dodôs e os dinossauros são os próximos a serem extintos?
O que Alida Bailleul viu no microscópio não fazia sentido. Ela estava examinando seções finas do crânio fossilizado de um jovem hadrossauro, um animal herbívoro com bico de pato que vagava pelo que hoje é Montana há 75 milhões de anos, quando avistou características que a fizeram respirar fundo.
Bailleul estava inspecionando os fósseis, de uma coleção do Museu das Montanhas Rochosas em Bozeman, Montana, para entender como os crânios de dinossauros se desenvolveram. Mas o que chamou sua atenção não deveria, diziam os livros, estar lá. Embutidos em cartilagem calcificada na parte de trás do crânio estavam o que pareciam ser células fossilizadas. Alguns continham estruturas minúsculas que se assemelhavam a núcleos. Em um deles estava o que parecia um aglomerado de cromossomos, os fios que carregam o DNA de um organismo.
Bailleul mostrou os espécimes a Mary Schweitzer, professora e especialista em paleontologia molecular da North Carolina State University, que estava visitando o museu. Schweitzer havia feito seu doutorado em Montana sob a supervisão de Jack Horner, o caçador de fósseis residente que inspirou o personagem de Jurassic Park, Alan Grant. A própria Schweitzer ficou famosa – e enfrentou ondas de críticas – por alegar ter encontrado tecidos moles em fósseis de dinossauros, de vasos sanguíneos a fragmentos de proteínas.
Schweitzer ficou intrigado com a descoberta de Bailleul e os dois juntaram forças para estudar mais os fósseis. No início de 2020, enquanto o mundo lidava com a chegada do Covid, eles publicaram um artigo bombástico sobre suas descobertas. Seu relatório apresentou não apenas evidências de células e núcleos de dinossauros nos fósseis de hadrossauros, mas resultados de testes químicos que apontavam para DNA, ou algo parecido, enrolado no interior.
A ideia de recuperar material biológico de fósseis de dinossauros é controversa e profunda. Schweitzer não afirma ter encontrado DNA de dinossauro – a evidência é muito fraca para ter certeza – mas ela diz que os cientistas não devem descartar a possibilidade de que ele possa persistir em restos pré-históricos.
“Acho que nunca devemos descartar a obtenção de DNA de dinossauro de fósseis de dinossauro”, diz ela. “Ainda não chegamos lá e talvez não o encontremos, mas garanto que não o faremos se não continuarmos procurando.”
Restos de tecido pré-histórico, proteínas ou DNA podem transformar o campo da paleontologia molecular e desvendar muitos dos mistérios da vida dos dinossauros. Mas a perspectiva de ter o código genético intacto de um tiranossauro ou velociraptor levanta questões que os cientistas se acostumaram a responder desde o filme original de Jurassic Park em 1993. Armados com DNA de dinossauro suficiente, poderíamos trazer de volta as feras pesadas?