Por trás do apelido Gabriel Brito da Silva, 25 anos, conhecido como “Tolete” (foto em destaque), está uma caminhada de crimes que acompanha a ascensão do Comboio do Cão (CDC) no Distrito Federal. Central na Operação Fratelli Bianchi, realizada na quinta-feira (25/9), ele é visto pela Polícia Civil como um dos principais integrantes armados da facção — uma figura que, mesmo com várias prisões e uma extensa ficha criminal, sempre evitou condenações na Justiça.
Preso pelo menos quatro vezes nos últimos anos, “Tolete” enfrenta acusações por homicídio, tráfico de drogas, extorsão e coação de testemunhas. Em conversas com colegas, chegou a zombar da situação, alegando ser “virgem” na Justiça, sem condenações, independentemente de sua culpa.
O episódio mais marcante aconteceu em 2014, quando Mateus Santos de Souza Mattos foi assassinado a tiros dentro de casa, na presença da companheira e quatro crianças. A investigação da 23ª Delegacia de Polícia apontou Gabriel, mas no Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT), a denúncia foi rejeitada, e o réu liberado.
Cinco anos depois, em 2019, “Tolete” voltou às manchetes policiais. Ele foi detido após ser identificado como um dos líderes de um grupo que impunha toque de recolher e a “lei do silêncio” em Ceilândia Norte, na QNN 3. Para garantir a obediência, o grupo incendiava carros e perseguia familiares que colaborassem com a polícia.
Segundo a Delegacia de Repressão ao Crime Organizado (Draco/Decor), Tolete conquistou um papel de destaque no CDC, facção com atuação nas ruas e no sistema prisional. Investigações recentes, iniciadas em julho deste ano, revelaram um esquema sofisticado de agiotagem e lavagem de dinheiro financiado pelo tráfico. O grupo liderado por “Tolete” impunha juros abusivos, cobrando com ameaças, perseguições e até retenção de veículos.
O dinheiro obtido era lavado por meio de empresas de fachada e laranjas, sustento para a estrutura do braço armado do CDC. A Operação Fratelli Bianchi cumpriu quatro mandados de prisão temporária, nove de busca e apreensão, além de bloquear bens, carros e contas bancárias vinculadas ao grupo, com ações em Águas Claras, Ceilândia, Samambaia e Alexânia (GO).
De acordo com a polícia, entre os crimes cometidos pelo grupo está o assassinato de um próprio membro do CDC. Longe de ser punida, a ação foi aceita e consolidou a liderança de um dos investigados. Além de Gabriel “Tolete”, outros dois alvos da operação acumulam mais de 46 anos de condenação por homicídio, tráfico, organização criminosa e lavagem de dinheiro.
O caso de “Tolete” traz à tona o desafio de transformar prisões em condenações concretas. Considerado um criminoso perigoso, ele circulou por anos como se estivesse protegido, alimentando a sensação de impunidade entre seus pares e vítimas.
Agora, com a Operação Fratelli Bianchi, a Justiça tem uma nova chance de verificar se a alegada “inocência” que Gabriel dizia ter será finalmente retirada.