“Não beba água fria, que vai dar dor de garganta!”. Esse conselho é comum em muitas famílias brasileiras e é passado de geração em geração, geralmente por mães e avós preocupadas. Mas, afinal, essa recomendação tem fundamento científico ou é apenas um mito popular?
O otorrinolaringologista Jefferson Takehara, da Santa Casa de São José dos Campos, esclarece que a resposta não é tão simples. Segundo ele, não é exatamente a temperatura da água que provoca doenças como faringite ou amigdalite.
“Durante o inverno ou em ambientes com ar seco, as mucosas do nariz e da garganta ficam mais sensíveis. Se a região já estiver irritada, a ingestão de líquidos muito gelados pode ser o fator que desencadeia uma inflamação”, explica.
Além disso, outros fatores aumentam o risco de infecções respiratórias, tais como ar frio, baixa umidade, aglomerações em locais fechados e pouca ventilação. Para o especialista, essas condições facilitam a circulação de vírus e bactérias. “A água fria, sozinha, não causa inflamação, mas pode irritar uma mucosa já fragilizada”, complementa Takehara.
Mitos e verdades sobre a água gelada
Beber água gelada faz bem para a saúde?
Sim, do ponto de vista nutricional, a água gelada pode trazer benefícios. O nutricionista Guilherme Lopes, do grupo Mantevida, explica que ela ajuda a regular a temperatura corporal, especialmente em dias quentes ou após exercícios, além de proporcionar sensação de frescor e disposição.
Porém, pessoas com sensibilidade dentária, tendência a enxaqueca ou refluxo podem sentir desconforto com água fria, e nesses casos é melhor optar por líquidos em temperatura ambiente.
A água gelada reduz o apetite?
Verdade. Para algumas pessoas, tomar água fria antes das refeições pode ajudar a diminuir temporariamente o apetite, segundo Lopes. A ingestão de líquidos gelados pode estimular o metabolismo levemente, mas o impacto no gasto calórico diário é pequeno. O importante é manter a hidratação constante durante o dia, seja com água fria ou natural.
A água gelada prejudica a voz?
Mito. É comum que profissionais que usam muito as cordas vocais, como cantores, professores e locutores, se preocupem com isso. Para Takehara, o problema real é a hidratação das cordas vocais. Quando elas estão ressecadas, surge rouquidão e pigarro no fim do dia.
“A água, mesmo gelada, ajuda a hidratar, desde que o consumo seja frequente”, esclarece. Em caso de rouquidão persistente, a recomendação é buscar avaliação médica, pois outro fatores podem estar envolvidos.
A água gelada pode causar chiado ou tosse?
Depende. A variação rápida de temperatura pode provocar contrações musculares na garganta, semelhante ao efeito do choque térmico ao entrar em água fria. Isso é incômodo, mas geralmente sem graves consequências. Porém, pessoas com predisposição podem apresentar sintomas como chiado e tosse.
Cuidados para crianças, idosos e pessoas com imunidade baixa
Para esses grupos, o cuidado deve ser maior. A água gelada não precisa ser proibida, mas pode ser mais um fator que, somado a outros, como falta de cuidados e baixa hidratação, favorece problemas. Manter a mucosa da garganta bem hidratada é essencial para fortalecer a defesa contra vírus e bactérias.
Água gelada ou natural: qual escolher?
A escolha depende da tolerância individual e do contexto. Beber água gelada não é prejudicial por si só e pode até trazer benefícios. Se houver desconfortos ou condições especiais de saúde, ajuste a temperatura. O mais importante é ficar atento aos sinais do corpo e garantir boa hidratação.
Dicas para manter a garganta hidratada
Quem sente a garganta seca ou irritada deve apostar em alimentos como maçã com casca, mel e própolis, que ajudam a proteger e manter úmida a mucosa da garganta, segundo Takehara.