Quase 15% sentiram sensações de medo ou pânico e 14,5% tiveram redução no tempo dedicado às refeições, família e ao lazer
Em 14 anos como médica, a Samanta Samara nunca viu algo parecido com agora. Em contato direto com pacientes graves da Covid-19 em Manaus, a nefrologista está exausta. “Tendo que fazer aquele malabarismo de organizar as diálises, é cansativo você ver seus pacientes, não é fácil. Tive vontade de ficar 15 dias trancada dentro se casa, mas eu não podia fazer isso. Não tinha condições de fazer isso, os pacientes precisavam de auxílio.”
Uma pesquisa inédita do Conselho Federal de Medicina só reforça o relato: 96% dos médicos sofreram impactos na vida profissional ou pessoal na pandemia. O aumento do nível de estresse atingiu 23% dos entrevistados. Quase 15% sentiram sensações de medo ou pânico e 14,5% tiveram redução no tempo dedicado às refeições, família e ao lazer. Cerca de 8% dos médicos ouvidos perderam horas de sono nos últimos meses. Para o vice-presidente do CFM, Donizetti Giamberardino, a situação pode agravar quadros de depressão e levar ao aparecimento da síndrome de Burnout.
“Isso faz com que a gente entenda a importância de você ter um sistema de saúde estruturado e forte. Nesse momento temos que defender o SUS, que o governo ponha seu investimento e estruture de forma integralizada todos os profissionais.” Em parceria com o Ministério Público, o Conselho Federal de Medicina está lançando o projeto Luna. A iniciativa oferece aos médicos acesso a uma plataforma em que eles poderão relatar todo tipo de dificuldade na linha de frente. Donizetti Giamberardino ressalta que a ideia é intensificar a proteção dos interesses dos médicos.
“A ideia é que essas instituições tenham a finalidade de ajudar. Prestar ajuda para tentar melhorar o nosso sistema de forma construtiva, de forma que pressione a cuidar do nosso maior patrimônio, que é a vida.” Segundo os Cartórios de Registro Civil, o Brasil já perdeu quase 6 mil profissionais da saúde desde o início da pandemia. O número é 25,9% maior que o registrado em 2019. Considerando apenas os dois primeiros meses de 2021, a alta já é de 29% em relação ao mesmo período do ano passado. Se continuar nesse ritmo, o total de óbitos pode chegar a 7.812 ao final do ano.