Uma em cada duas pessoas no mundo deve desenvolver algum tipo câncer ao longo da vida; por isso, conhecer os fatores de risco é a chave para a prevenção
O câncer não é uma doença rara entre os mais de 7,6 bilhões de habitantes do planeta Terra. Uma em cada duas dessas pessoas terá algum tipo câncer ao longo da vida. Ao serem diagnosticadas ou ao ouvirem que alguém teve câncer, muitas delas logo pensam que esta é uma doença de nossa época, que é genética e uma fatalidade. Um pouco é verdade, outro tanto não.
O câncer sempre existiu. Hoje há mais casos porque as pessoas estão vivendo mais e, embora possa ocorrer em qualquer fase da vida, ele predomina em idades mais avançadas. Sim, o câncer é uma doença dos genes, do DNA de nossas células. Mas isso não pode ser confundido, como muitas vezes é, com doença hereditária.
Alguns cânceres são hereditários, isto é, o indivíduo já nasce com alterações genéticas que determinam o risco de ter câncer, como em alguns casos de câncer de mama e de ovário, polipose familiar do cólon, carcinoma medular de tireóide, de retinoblastoma e tantos outros. Mas, isso representa somente 5% de todos os casos. Os outros 95%dependem daquilo que fazemos no dia a dia no trabalho, em casa, e mesmo nas horas de lazer. Desse modo, o câncer não é inevitável, não é determinado pelo destino. Ele é, geralmente, o resultado daquilo que fazemos voluntariamente ou não.
Prevenção
Conhecer os fatores de risco é a chave para a prevenção, que pode ser feita de duas maneiras. A primeira, se conhecemos e evitamos a exposição, podemos fazer o que se chama de prevenção primária, isto é, reduzir ou evitar o risco não se expondo a determinados agentes.
A segunda, se conhecemos os fatores de risco, podemos identificar pessoas de risco e fazer exames dirigidos, como é o caso da mamografia e do papanicolau nas mulheres, realizados nas idades de maior risco de ocorrência de câncer de mama e de colo de útero. Isso é chamado de prevenção secundária, na qual o objetivo é diagnosticar manifestações clínicas iniciais de câncer, ou melhor ainda, identificar doenças pré-cancerosas como pólipos, manchas brancas (leucoplasias), entre outras. O câncer diagnosticado em fases iniciais é mais facilmente tratado, com menores riscos de complicações e sequelas e com maiores chances de cura.
Fatores de risco
Os principais fatores de risco para câncer e diversas outras doenças graves são exposição solar repetida e sem proteção, dieta inadequada (excesso de gorduras, carnes, embutidos ou baixo consumo de alimentos com fibras, vitaminas e antioxidantes), consumo de qualquer forma de tabaco e de bebidas alcoólicas (principalmente o uso diário de destilados), sedentarismo, exposições profissionais a determinados agentes químicos e algumas infecções (HPV e hepatite, por exemplo).
Se você não fuma, seu índice de massa corpórea é 20, pratica exercícios físicos por pelo menos duas horas por semana, não se expõe ao sol, bebe pouco, tem uma dieta rica em vegetais e grãos e consome pouca carne processada… parabéns! Você está seguindo as recomendações da maior parte das associações médicas que trabalham em oncologia e apresentará um baixo risco de ter câncer.
Por outro lado, se você fuma, tem massa corpórea acima de 30, não faz exercícios físicos, toma sol com frequência e sem proteção, bebe muito, consome poucos vegetais e frutas, consome muita carne processada e poucos vegetais e grãos, lamentavelmente sua chance de ter câncer é enorme. Com certeza não dá para mudar o estilo de vida da noite para o dia. Você precisa de tempo e deve corrigir todos esses fatores gradativamente. Pare de fumar, adote uma dieta equilibrada, se possível orientada por nutricionista, faça exercícios físicos, proteja-se quando exposto ao sol e beba menos.
Você pode e deve tomar as medidas preventivas citadas anteriormente, pois elas reduzem o risco de doenças, mas não substituem a necessidade de atenção médica. Todos precisam realizar exames médicos periodicamente, e mesmo assim, é importante estar alerta para algumas manifestações que podem sugerir risco de câncer.
Como identificar sintomas
A Sociedade Americana de Câncer (American Cancer Society) desenvolveu um método mnemônico para chamar atenção, que poderia ser adaptado para o português usando-se o anagrama FUMASTE!
F–Feridas que não cicatrizam;
U –Mudança de hábitos Urinários ou intestinais;
M –Má digestão ou dificuldade para engolir;
A –Alteração óbvia de manchas ou de verrugas;
S –Sangramentos ou secreções anormais;
T–Tosse ou rouquidão persistentes;
E –Espessamento ou caroço em mamas ou outros locais.
Se estes ou outros sintomas fora do habitual aparecerem e durarem mais de duas semanas, procure um médico! Não seja seu médico. Não deixe que familiares ou amigos bem intencionados sugiram diagnósticos ou muito menos tratamentos!
Quem faz Letra de Médico
Adilson Costa, dermatologista
Adriana Vilarinho, dermatologista
Ana Claudia Arantes, geriatra
Antonio Carlos do Nascimento, endocrinologista
Antônio Frasson, mastologista
Artur Timerman, infectologista
Arthur Cukiert, neurologista
Ben-Hur Ferraz Neto, cirurgião
Bernardo Garicochea, oncologista
Claudia Cozer Kalil, endocrinologista
Claudio Lottenberg, oftalmologista
Daniel Magnoni, nutrólogo
David Uip, infectologista
Edson Borges, especialista em reprodução assistida
Eduardo Rauen, nutrólogo
Fernando Maluf, oncologista
Freddy Eliaschewitz, endocrinologista
Jardis Volpi, dermatologista
José Alexandre Crippa, psiquiatra
Ludhmila Hajjar, intensivista
Luiz Rohde, psiquiatra
Luiz Kowalski, oncologista
Marcus Vinicius Bolivar Malachias, cardiologista
Marianne Pinotti, ginecologista
Mauro Fisberg, pediatra
Miguel Srougi, urologista
Raul Cutait, cirurgião
Roberto Kalil, cardiologista
Ronaldo Laranjeira, psiquiatra
Salmo Raskin, geneticista
Sergio Podgaec, ginecologista
Fonte: Portal Veja