Gleiciane Galvão Ambrosio enfrentou grandes desafios desde a adolescência. Aos 16 anos, após uma infância difícil, tentou tirar a própria vida ingerindo soda cáustica, o que causou danos graves em sua língua, garganta, esôfago e traqueia. Ela passou três anos sem falar ou se mover, dependendo de aparelhos para sobreviver. A esperança surgiu graças à perseverança de sua mãe, que buscou ajuda e conseguiu contato com um médico de Manaus que percebeu a gravidade da situação, mas também as limitações locais para o tratamento.
Em 2006, com 19 anos, Gleiciane foi transferida para Brasília pelo Programa Tratamento Fora de Domicílio (TFD), que permite atendimento médico em outras regiões quando necessário. No Hospital de Base do Distrito Federal, encontrou tecnologia, conhecimento e cuidado humano. O cirurgião torácico Manoel Ximenes e sua equipe iniciaram o complexo processo de reconstrução parcial do esôfago, abrindo caminho para melhorar sua qualidade de vida.
Uma caminhada de reconstrução
Manoel Ximenes, com 90 anos, recorda com emoção o começo do tratamento de Gleiciane. Após sua aposentadoria, o cirurgião torácico Humberto Alves deu continuidade aos cuidados. O caso que parecia perdido tornou-se um exemplo de determinação e esperança.
Durante o processo de recuperação, Gleiciane foi mãe, fazendo uma pausa nos tratamentos para garantir a gestação. Ao voltar, encontrou Humberto Alves que acompanhou atentamente sua reabilitação. Uma das cirurgias mais importantes foi a traqueoplastia, que possibilitou que ela falasse, respirasse e se alimentasse normalmente novamente.
Com mais de 20 procedimentos ao longo de quase 20 anos, Gleiciane avançou a cada cirurgia em direção à independência. A equipe multidisciplinar, incluindo a chefe de enfermagem Juliana Wercelens, ofereceu apoio técnico e emocional fundamental para o sucesso do tratamento.
Equipe multidisciplinar no Hospital de Base
Recentemente, a cirurgiã-dentista Alessandra de Paula, especialista em reabilitação oral, trabalhou para restaurar funções como mastigação, fala e autoestima. Em 22 de agosto de 2025, a paciente passou por uma cirurgia inovadora com células-tronco para reconstrução da mandíbula, marcando 23 anos desde o acidente e simbolizando sua força e resiliência.
Aos 39 anos, Gleiciane vive praticamente de forma normal, enfrentando poucas limitações, e considera o Hospital de Base um verdadeiro lar, onde foi acolhida com respeito e carinho desde o início. Segundo ela, esse local transformou sua vida e lhe deu um novo sentido.
Para o cirurgião Humberto Alves, a história de Gleiciane é uma prova do impacto positivo do Hospital de Base, que une ciência, cuidado e humanidade para dar esperança a seus pacientes.
Na próxima reportagem, será mostrado o legado dos profissionais e voluntários que construíram esta história de superação, amor e solidariedade ao longo de 65 anos do Hospital de Base.
*Informações fornecidas pelo Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do Distrito Federal (Iges-DF)