Os meses de novembro e dezembro trazem muita esperança para os moradores de Brasília. Além das festas de Black Friday, Natal e Ano Novo, é quando recebem o 13º salário, conhecido como gratificação natalina. Essa verba, que foi oficializada em 1962 e é assegurada pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), é paga em duas vezes: a primeira entre fevereiro e novembro, e a segunda até 20 de dezembro, com descontos de Imposto de Renda (IR) e INSS na última parcela.
Mais do que estimular o consumo, o 13º salário alivia as finanças de muitas famílias. Este ano, no Distrito Federal, a expectativa é que esse pagamento movimente cerca de R$ 11 bilhões na economia, valor maior que os R$ 10,1 bilhões do ano anterior. Segundo o Sindicato do Comércio Varejista, o crescimento se deve ao aumento dos salários e ao otimismo para as vendas de fim de ano, que podem crescer 9,7% contra 7,3% no último ano.
Por outro lado, a situação de inadimplência no DF ainda é preocupante. O Mapa da Inadimplência da Serasa indica que existem 1.410.480 pessoas com dívidas atrasadas, totalizando 8.887.181 débitos, que somam R$ 12,43 bilhões. A média individual da dívida é de R$ 8.814,84, e o valor médio por débito é de R$ 1.399.
A maioria dos inadimplentes está na capital, com 1.405.607 pessoas e 8.878.587 dívidas, somando R$ 12,42 bilhões em débitos. As dívidas vêm principalmente de bancos e cartões (28,12%), contas básicas como água e luz (20%), financeiras (21,38%), serviços diversos (14,67%), varejo (5,39%) e telecomunicações (4,54%).
Uma pesquisa feita entre agosto e setembro pelo Instituto Opinion Box e pela Serasa mostrou que o desemprego (18%) é a maior causa das dívidas, seguida por gastos inesperados (18%) e redução de renda (15%). Mais da metade das pessoas (52%) já teve dívidas em algum momento, e 6% delas não conseguiu pagar nem contas básicas.
“Ainda há muitas pessoas com dificuldades para controlar o orçamento, especialmente por causa do alto custo de vida”, explica Aline Maciel, diretora da Serasa. Ela destaca que o crédito não deve ser visto como algo ruim, mas sim como uma ferramenta útil quando usado com planejamento.
No Centro-Oeste, 49% das pessoas têm contas no cartão de crédito, principalmente para comprar supermercado, e 40% usam para roupas, calçados e eletrodomésticos. Nos últimos 12 meses, 26% gastaram principalmente com o cartão.
Vagas temporárias no comércio
Com o 13º e o aumento das vendas, o comércio local também cresce. O Sindivarejista prevê 3.887 empregos temporários no DF para novembro e dezembro, mais que os 3.150 do ano passado. No Brasil, a previsão é de 535 mil contratações temporárias.
As áreas que mais contratam no DF são roupas, calçados, brinquedos e acessórios. As vagas estão em lojas de rua e shoppings. Geralmente, 51% dos contratados temporários são mulheres e 49% homens, com chance de efetivação entre 7% e 12% no início do ano seguinte.
O sindicato espera que o comércio movimente R$ 282 milhões neste fim de ano, contra R$ 234 milhões em 2024. Sebastião Abritta, presidente do Sindivarejista, lembra que o 13º salário é um motor importante do consumo, que ajuda a arrecadar impostos, gerar empregos e impulsionar vários setores, além de ser usado para pagar dívidas e fazer investimentos.
Endividamento no Brasil
No cenário nacional, o problema também é crescente. Em setembro, entraram 318 mil novos inadimplentes, aumento de 0,4% em relação a agosto e 9% em comparação a setembro do ano passado. Atualmente, o país tem 79 milhões de inadimplentes com 313 milhões de dívidas, somando R$ 496 bilhões. A dívida média por pessoa é de R$ 6.274,82, concentrada em bancos e cartões (27,02%), contas básicas (21,33%) e financeiras (19,92%).
Como usar o 13º com sabedoria
Fernando Gambaro, especialista em educação financeira da Serasa, recomenda cautela e planejamento. Ele sugere priorizar contas essenciais como aluguel, energia e comida. Quem está endividado deve usar o 13º para negociar débitos e evitar atrasos, aproveitando descontos à vista e programas de renegociação, como os oferecidos pela Serasa, que podem oferecer descontos de até 99% e parcelas pequenas.
Para quem não tem dívidas, o 13º pode ser usado para formar uma reserva de emergência ou investir em opções seguras como CDB, CDI, Tesouro Direto ou fundos imobiliários. É importante também se preparar para despesas do início do ano, como IPTU, IPVA e material escolar.
Entre as dicas para não voltar a se endividar estão: organizar receitas e despesas, cortar gastos desnecessários, evitar compras parceladas, buscar renda extra segura e criar o hábito de poupar mesmo que pouco.
Expectativa de quem vai receber
Lhitts Maria Silva, que mora em Ceilândia e trabalha em Recursos Humanos, já tem planos para o 13º: “Vou pagar dívidas e antecipar gastos do fim do ano. Gosto de aproveitar a Black Friday, comprar em novembro e quitar tudo com o décimo. Assim, começo o ano sem pendências.” Ela mantém uma reserva financeira e prefere resolver tudo ainda em dezembro para começar o ano tranquila.
Gilvânia Amorim, de Planaltina, que trabalha com serviços gerais, também quer usar o 13º para pagar dívidas do cartão. “O custo de vida está apertando, as contas se acumulam e a gente precisa se organizar. Minha meta é começar o ano livre de dívidas e me manter assim. Quero fechar o ano com as finanças equilibradas.”
