Suspeitos são dois policiais militares da ativa e um aposentado. Eles se apresentaram à polícia nesta terça-feira (6), mas não prestaram depoimento. No total, sete pessoas são investigadas pelo espancamento de dois homens no depósito do estabelecimento em Canoas.
Dos sete envolvidos na tortura de suspeitos de furtar pacotes de picanha de um supermercado em Canoas, no Rio Grande do Sul, três são policiais militares. De acordo com a Polícia Civil, os suspeitos são dois militares da ativa e um aposentado. Com isso, todas as pessoas foram identificadas e são investigadas pela polícia.
A identificação aconteceu depois que os três se apresentaram na delegacia, nesta terça-feira (6). Dois deles na parte da manhã e um à tarde, acompanhados do advogado. Eles atuavam como seguranças para a empresa que prestava serviço ao estabelecimento.
Segundo o delegado Cassiano Cabral, eles permaneceram em silêncio na delegacia. Apesar disso, a polícia já teria elementos pra indiciar os agentes e os outros quatro envolvidos por tortura.
O envolvimento de policiais era investigado desde o início do caso. Segundo a polícia, uma das vítimas contou em depoimento que durante as agressões os homens teriam tido acesso a sua ficha policial.
Por meio de nota, a Brigada Militar informou que, após tomar conhecimento da participação dos policiais, “a Corporação instaurou Inquérito Policial Militar, no intuito de elucidar os fatos e as devidas responsabilizações. As diligências estão a cargo do Comando de Policiamento Metropolitano e da Corregedoria-Geral da Brigada Militar.”
O advogado dos policiais, Willian Nunes Alves, confirmou que os agentes são vistos nas imagens, mas não deu detalhes e afirmou que eles vão se manifestar apenas na Justiça.
“A defesa teve acesso as imagens pela mídia, então não tivemos acesso integral as imagens. Nesse contexto, eles permanecem em silêncio e posteriormente sim na justiça será efetivada as defesas”.
O delegado Robertho Peternelli, responsável pelo caso, confirmou ao g1 que dois PMs são lotados em Porto Alegre. Um deles é o homem de moletom rosa e boné que aparece na foto abaixo e o outro é o de camiseta cinza e calça jeans. O policial militar aposentado é o homem que aprece de óculos e roupa azul, na última posição da direita pra esquerda.
Os envolvidos no caso são: cinco seguranças da empresa de vigilância patrimonial Glock — entre eles, três policiais militares que trabalhavam como seguranças do local — e dois funcionários do supermercado, o gerente Adriano Dias e o subgerente Jairo da Veiga. Veja abaixo o que dizem os envolvidos.
O caso aconteceu no dia 12 de outubro em um supermercado da rede Unisuper em Canoas, na Região Metropolitana da Capital. De acordo com a polícia, as duas pessoas que foram torturadas teriam furtado dois pacotes de picanha, com custo de R$ 100 cada, e foram flagradas pela equipe de segurança do local. Após o flagrante, a dupla passou por uma sessão de tortura, sendo agredida por 45 minutos.
As vítimas são dois homens, de 32 e 47 anos, sendo um negro e outro de pele branca. Segundo o delegado Peternelli, durante a tortura, os agressores ligaram para alguém pedindo a ficha policial das vítimas e receberam a informação falsa de que o homem negro teria envolvimento em um estupro.
Após a informação, ele passou a ser o alvo das agressões, teve ferimentos graves e chegou a ficar em coma induzido após ter sido hospitalizado. Segundo o delegado, a vítima nunca teve passagem por estupro.
Homem joga um pallet e depois pisa com força contra vítima de agressões em supermercado de Canoas, no RS. — Foto: Reprodução/RBS TV
Investigação
A polícia só ficou sabendo do caso porque um dos homens que sofreu as agressões deu entrada no Hospital de Pronto Socorro (HPS) de Porto Alegre com ferimentos graves. Ele tinha diversas fraturas no rosto e na cabeça.
Um parente da vítima contou para os agentes que o homem tinha sido espancado no supermercado em Canoas.
De acordo com a polícia, 31 câmeras de segurança gravaram o que aconteceu dentro do supermercado e também no depósito onde as vítimas foram agredidas. Após a denúncia, os policiais foram até o estabelecimento coletar as imagens, mas perceberam que os arquivos haviam sido deletados logo que os agentes entraram no local.
O delegado Peternelli apreendeu o equipamento de gravação, que foi encaminhado para a perícia. O perito criminal Marcio Faccin do Instituto Geral de Perícia (IGP) do estado conseguiu recuperar os arquivos.
O que dizem os envolvidos
Pedindo desculpa pelos fatos ocorridos, o Unisuper disse em nota que agressões são inaceitáveis e que não condizem com a história da rede.
A empresa Glock, que prestava o serviço ao supermercado, disse em nota que só vai se manifestar no inquérito policial e em juízo. O Unisuper diz ter encerrado o contrato com a terceirizada.
Os funcionários suspeitos de envolvimento nas agressões foram demitidos. Os advogados do gerente e do subgerente disseram que, por questões éticas e em respeito à autoridade policial, vão se manifestar exclusivamente nos autos.
Nota à imprensa
A Brigada Militar comunica, em referência às imagens, onde são exibidas a ação de seguranças agredindo dois homens que teriam realizado furto de carne no interior de um supermercado, em Canoas, que foi identificada a participação de três policiais militares no episódio, dois da ativa e um da reserva remunerada.
Após tomar conhecimento, imediatamente a Corporação instaurou Inquérito Policial Militar, no intuito de elucidar os fatos e as devidas responsabilizações. As diligências estão a cargo do Comando de Policiamento Metropolitano e da Corregedoria-Geral da Brigada Militar.
Como Instituição dedicada à segurança da sociedade, a Brigada Militar reafirma seu compromisso com a defesa dos direitos e garantias fundamentais. Outrossim, repudia desvios de conduta por parte de seu efetivo, agindo sempre dentro da legalidade e responsabilizando indistintamente toda e qualquer postura inadequada em suas fileiras.