19.5 C
Brasília
segunda-feira, 25/11/2024
--Publicidade--

Telhado de casa ‘derrete’ por conta do sol em Boa Vista

Brasília
céu limpo
19.5 ° C
20.4 °
19.5 °
94 %
4.6kmh
0 %
seg
23 °
ter
24 °
qua
25 °
qui
25 °
sex
27 °

Em Brasília

Teto da casa tem a aparência de pano velho, chama a atenção e desperta a curiosidade de quem passa. Especialistas ouvidos pelo atribuem o amolecimento ao sol e ao calor de Boa Vista.

Teto da casa abandonada há 15 anos se assemelha a um pano preto — Foto: Caíque Rodrigues/g1 RR

Quem passa pela avenida Brigadeiro Eduardo Gomes, no bairro dos Estados, zona Leste de Boa Vista, pode até pensar que está vivendo um “live action” do quadro surrealista “A Persistência da Memória”, do pintor espanhol Salvador Dalí. Isso porque o telhado de uma das casas “derreteu” por conta do desgaste do sol.

A cena gera curiosidade e piadas entre os moradores que relacionam o derretimento com o calor de Roraima. Para explicar como isso é possível, o g1 ouviu pesquisadores da Universidade Federal de Roraima que explica que sim, tem relação com o sol. A casa está abandonada há, pelo menos, 15 anos.

Roraima é um estado quente – em 2022, por exemplo, o dia mais quente do ano chegou a 40,7ºC e foi registrado no dia 14 de fevereiro. Em outubro, a maior temperatura registrada foi na última sexta-feira (7), quando Boa Vista teve uma temperatura de 39,1ºC.

Mas a maior temperatura histórica foi no dia 18 de novembro de 1999, no dia Boa Vista registrou 42ºC. Nos picos de calor, a sensação térmica pode chegar à 40ºC.

Com o início do período seco do estado, a curiosidade em relação ao derretimento das telhas da casa – que se parecer com panos pretos rasgados – só aumentam.

O problema antigo da casa pode ser visto até pelo Google Street View, ferramenta que permite ver ruas e avenidas pela internet: quem acessa a avenida de forma on-line pode ver uma imagem de 2019 que mostra os primeiros sinais do telhado se derretendo.

Ao analisar as imagens do telhado, a doutora em patologia das construções e professora do curso de engenharia civil na UFRR, Gioconda Martinez, explicou que essas telhas provavelmente eram feitas de compósito de fibras com cimento asfáltico, conhecidas como telhas de fibrocimento, que, expostas a climas muito quente, acabam derretendo.

“A telha é formada por um composto de fibras, com cimento asfáltico, o cimento de base asfáltica. E o que foi que aconteceu com essa tecnologia? Em climas excessivamente quentes, como o nosso, a estrutura dela não não aguenta a deformação promovida pelo aumento de temperatura e amolece. Entendeu? Porque cimentos asfálticos de petróleo têm essa característica de ter um amolecimento mediante a elevação da temperatura.”

“Isso possivelmente se deu devido ao ponto de amolecimento desse material, que não respondeu bem para uma cidade e para essas regiões de temperatura muito elevada”, frisou.

 

Imagem do Google Street View da casa com o teto "derretido" — Foto: Reprodução/Google Street View

Imagem do Google Street View da casa com o teto “derretido” — Foto: Reprodução/Google Street View

Gioconda Martinez destacou ainda que esse tipo de telha não é mais tão vendida atualmente no mercado da construção civil, justamente porque a qualidade deixava a desejar diante ao clima roraimense.

“Essa é uma telha que passou o boom de uso dela, o apelo comercial. O pessoal vai tendo a experiência (negativa) e vai deixando de lado. E surgiram também outros tipos de telha”, disse, acrescentado ter visto outros casos parecidos de telhas derretidas pelo sol ao longo da carreira como engenheira e pesquisadora.

“Isso possivelmente se deu devido ao ponto de amolecimento desse material, que não respondeu bem para uma cidade e para essas regiões de temperatura muito elevada”, frisou.

 

Imagem do Google Street View da casa com o teto "derretido" — Foto: Reprodução/Google Street View

Imagem do Google Street View da casa com o teto “derretido” — Foto: Reprodução/Google Street View

Gioconda Martinez destacou ainda que esse tipo de telha não é mais tão vendida atualmente no mercado da construção civil, justamente porque a qualidade deixava a desejar diante ao clima roraimense.

“Essa é uma telha que passou o boom de uso dela, o apelo comercial. O pessoal vai tendo a experiência (negativa) e vai deixando de lado. E surgiram também outros tipos de telha”, disse, acrescentado ter visto outros casos parecidos de telhas derretidas pelo sol ao longo da carreira como engenheira e pesquisadora.

“Esse processo que ocorre pela ação da chuva e do sol, chamamos de intemperismo. Ele não causa derretimento diretamente, mas causa o desgaste do material, principalmente perda das propriedades mecânicas. Ou seja, não há possibilidade da ação de chuva e sol derreter o material, mas sim de amolecer”, explica.

Ele destacou que para derreter um material como uma telha comum é necessário que haja uma exposição a 400 graus Celsius.

‘Quase uma casa de cera’

Visão de dentro da casa com o teto derretido em Boa Vista — Foto: Caíque Rodrigues/g1 RR

Visão de dentro da casa com o teto derretido em Boa Vista — Foto: Caíque Rodrigues/g1 RR

A casa está abandonada. O portão, enferrujado, está aberto e o quintal consumido por capim. Dentro da casa, o forro caído dá destaque ao derretimento das telhas. Vizinha do local, a funcionária pública Helena Melo, de 59 anos, dona de uma loja de artigo de festas ao lado, acompanhou o “derretimento” da telha de camarote.

Ela conta que com o amolecimento, o teto virou uma espécie de “bacia” acumulando água e sujeira.

“Eu acompanhei o processo de ‘derretimento’ dessas telhas e foi por conta de sujeira mesmo. Meu marido chegou a subir uma época para furar as telhas pois elas acumulavam muita água, muita sujeira, muito odor, muito mosquito… Já tava derretendo mesmo então deu um jeito da água descer”.

“Chega a ser cômico, é quase uma casa de cera derretendo”, diz.

Portão de casa abandonada há 15 anos está aberto  — Foto: Caíque Rodrigues/g1 RR

Portão de casa abandonada há 15 anos está aberto — Foto: Caíque Rodrigues/g1 RR

Ela conta que quando construiu a casa onde mora, o local era de propriedade do Conselho Regional de Medicina (CRM), e a casa foi abandonada há 15 anos atrás, após passar por uma reformar em que chegou a trocar a telha por uma mais barata.”Logo que a gente chegou aqui para morar já existia esse terreno aqui do lado, que era do CRM e já tinha essa casa. Quando eu construi essa que eu moro, eles chegaram a reformar essa que tá abandonada hoje. Era uma época que usavam muito telhas ‘vagabundas’, era moda por ser mais barato. Só que ninguém nunca mais ocupou a casa e isso já tem cerca de 15 anos”.

--Publicidade--

Veja Também

- Publicidade -