Boca de urna indica vitória da extrema direita no primeiro turno das eleições legislativas do país com a segunda maior economia da união europeia
A extrema direita ganhou neste domingo (30/6) o primeiro turno de eleições legislativas cruciais na França, onde as forças de centro-direita do presidente Emmanuel Macron ficaram em terceiro lugar, atrás da esquerda, de acordo com as primeiras estimativas.
O partido de extrema direita Reagrupamento Nacional (RN) de Marine Le Pen e seus aliados obtiveram mais de 34% dos votos, mas terão que esperar pelo segundo turno, em 7 de julho, para saber se alcançam a maioria absoluta na Assembleia Nacional (Câmara baixa).
A coalizão de esquerda Nova Frente Popular (NFP) conseguiria entre 28,5% e 29,1% dos votos, enquanto a aliança de Macron teria entre 20,5% e 21,5%, segundo as primeiras estimativas dos institutos de pesquisa Ifop e Ipsos no fechamento das urnas.
A ascensão da extrema direita ao poder, pela primeira vez desde a Libertação da ocupação nazista em 1945, poderia colocar mais um país da União Europeia sob essa tendência, como aconteceu na Itália.
Isso poderia enfraquecer o apoio de Macron à Ucrânia. Embora o partido de Le Pen, criticado por ser próximo à Rússia de Vladimir Putin, afirme apoiar Kiev, ele também busca evitar um confronto com Moscou.
Com uma participação vista como histórica, às 17h00 locais, três horas antes do fechamento das urnas, a taxa de votação atingiu 59,39%, 20 pontos a mais do que no mesmo horário em 2022, de acordo com o Ministério do Interior.
O próprio sistema eleitoral torna incerto o resultado final da Assembleia Nacional, onde os três blocos formados nas eleições de 2022 continuarão, mas com uma nova dinâmica de forças.
Seus 577 deputados são eleitos em círculos uninominais com um sistema de dois turnos. Dependendo dos resultados de cada circunscrição, dois, três ou mais candidatos podem ir para o segundo turno.
As primeiras projeções deste domingo variam entre uma maioria simples ou absoluta na Câmara baixa.
Socialistas, comunistas e ecologistas, aliados do partido radical A França Insubmissa (LFI) na coalizão de esquerda, prometeram retirar seus candidatos se ficarem em terceiro lugar, para aumentar as chances do candidato oficialista contra um de extrema direita.
Sob pressão para adotar uma política semelhante em relação às forças de esquerda, Macron, cuja popularidade caiu com a antecipação das eleições e que convocará seu governo na segunda-feira, insinuou que sua política de voto será contra os “extremos” representados, em sua opinião, pelo RN e LFI.
Segundo turno, decisivo
Macron, cujo mandato termina em 2027, convocou as eleições antecipadas em 9 de junho após a vitória esmagadora do RN nas eleições europeias na França, e agora corre o risco de compartilhar o poder com um governo de outra cor política, a menos de um mês dos Jogos Olímpicos de Paris.
O RN já anunciou que, se conseguir a maioria absoluta com seus aliados, irá indicar como primeiro-ministro seu jovem líder emergente Jordan Bardella, que aos 28 anos levou seu partido à vitória nas eleições europeias.
O partido de extrema direita defende um programa que busca limitar a imigração, impor “autoridade” nas escolas e reduzir a conta de luz das residências, entre outras medidas.
Os rivais do RN tentaram alertar no último momento sobre o risco de chegada ao poder da extrema direita, que se esforçou na última década para moderar a imagem herdada de seu fundador, Jean-Marie Le Pen, conhecido por seus comentários racistas e antissemitas.
“Entregar a eles qualquer poder significa correr o risco de ver desfeito pouco a pouco tudo o que foi construído e conquistado ao longo de mais de dois séculos e meio”, alertou o jornal Le Monde.