O grupo político liderado por Hugo Motta, presidente da Câmara dos Deputados, enfrenta uma divisão depois que o prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena, anunciou sua filiação ao MDB.
Com essa mudança, Cícero Lucena deve disputar o governo da Paraíba em 2026, concorrendo contra o atual vice-governador, Lucas Ribeiro (PP), que é sobrinho do deputado federal Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), uma importante liderança do centrão no Congresso.
Essa movimentação fragilizou a unidade que Hugo Motta e outros membros aliados do governador João Azevêdo (PSB) buscavam manter. O governador João Azevêdo deve deixar o cargo em abril para concorrer ao Senado.
A chapa governista inclui o prefeito de Patos, Nabor Wanderley (Republicanos), pai de Hugo Motta, como candidato ao Senado ao lado de João Azevêdo.
Antes, havia o plano de que Hugo Motta fosse candidato ao Senado, porém ele optou por buscar a reeleição na Câmara, onde ocupa a presidência.
Aliados de Hugo Motta reconhecem que seu pai enfrentará uma disputa difícil, concorrendo com o atual senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB) e o ex-ministro da Saúde Marcelo Queiroga (PL).
Veneziano é aliado do presidente Lula (PT), que tem forte votação na Paraíba. Em 2022, o petista recebeu 66,62% dos votos no estado, contra 33,38% do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Contudo, há um desafio histórico, pois nenhum senador é reeleito no estado desde 1998.
Veneziano, ex-prefeito de Campina Grande, teve dificuldades para montar um palanque próprio, devido à oposição ao governador atual e à distância do bolsonarismo. A chegada de Cícero Lucena ao MDB pode fortalecer sua campanha, com possível apoio de Lula e do governador João Azevêdo, apesar de serem adversários locais.
Cícero Lucena pretende ser candidato a governador pelo MDB, após ser reeleito prefeito em 2024 e deixar o PP, que mantém Lucas Ribeiro como pré-candidato.
Essa decisão causou irritação em Aguinaldo Ribeiro, que se sentiu traído, lembrando que Cícero estava afastado da política em 2020, quando o PP o lançou como candidato.
Veneziano, aliado de Cícero, tem articulado ações dos prefeitos paraibanos junto ao governo federal, enquanto Nabor Wanderley aposta no peso político do filho para alcançar sucesso.
Marcelo Queiroga, por sua vez, aposta no voto ideológico do bolsonarismo, que vê a eleição ao Senado como estratégica para enfrentar o Supremo Tribunal Federal.
Queiroga acredita que pode vencer e critica seus adversários, chamando-os de candidatos que dependem de emendas parlamentares, enquanto ele se diz baseado em ações reais.
O senador Efraim Filho (União Brasil), apoiado pela direita, deve ser o candidato a governador pelo PL, após entregar cargos indicados no governo de Lula. A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro apoiou essa aproximação durante visita a João Pessoa.
A divisão no campo governista pode favorecer Efraim, que tem chance de ir ao segundo turno. Ele pode migrar para o PL, caso haja a federação entre União e PP, sob o comando de Aguinaldo Ribeiro e Lucas Ribeiro.
Outro partido importante é o PSD, liderado pelo ex-deputado federal Pedro Cunha Lima, que perdeu para João Azevêdo em 2022.
Há a possibilidade de Pedro Cunha Lima ser candidato a vice na chapa de Cícero Lucena, com intenção de alinhamento também com Efraim Filho. A decisão deve ser conjunta com seu primo, o prefeito de Campina Grande, Bruno Cunha Lima (União Brasil), prevista para janeiro.
Pedro Cunha Lima destaca a importância de focar em educação e apoiar Veneziano para o Senado.
Com Pedro na chapa, Cícero Lucena teria apoio das maiores cidades da Paraíba, Campina Grande e João Pessoa, onde o vice-prefeito Léo Bezerra (PSB) apoia sua candidatura.
Lucas Ribeiro conta com o apoio da estrutura do governo estadual, já que será governador durante a campanha. O PP, PSB e Republicanos elegeram juntos 139 dos 223 prefeitos da Paraíba em 2024.
Ambos, Cícero Lucena e Lucas Ribeiro, buscam o apoio do PT, que pode indicar um vice em uma das chapas. Apesar de ter apenas um prefeito no estado, o PT é estratégico por ter o presidente Lula e tempo de propaganda na mídia.
O foco do PT é eleger dois deputados federais para ampliar a base aliada do presidente Lula para um possível quarto mandato. Um dos candidatos será o ex-governador Ricardo Coutinho. Atualmente, o PT tem apenas um deputado federal na Paraíba.

