LEONARDO VIECELI
RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS)
Mesmo com os alimentos ainda impactando o orçamento do consumidor, o clássico par arroz e feijão apresentou redução nos preços no Brasil no último ano, com decréscimos que chegaram aos dois dígitos.
As informações são do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), índice oficial da inflação brasileiro calculado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Especialistas associam essa queda principalmente ao aumento da oferta devido a safras maiores. Alterações no padrão de consumo da população também contribuíram para a modificação dos valores.
O arroz teve uma redução acumulada de 12,07% nos 12 meses até maio, conforme o IPCA, registrando oito quedas mensais consecutivas desde outubro do ano anterior.
Dentre os quatro tipos de feijão monitorados pelo IPCA, o preto apresentou a maior diminuição nos últimos 12 meses, caiando 23,01%. O feijão carioca, o mais consumido nacionalmente, teve uma retração de 13,17%.
Também foram observadas quedas nos preços do feijão fradinho (-7,23%) e mulatinho (-4,25%), embora estes tenham menor peso no IPCA.
Segundo o consultor Evandro Oliveira, especialista dos mercados de arroz e feijão da Safras & Mercado, o principal motivo para a redução é a maior oferta em relação à demanda.
Oliveira ressalta que, apesar da melhora no mercado de trabalho, a venda desses alimentos enfrenta resistência no varejo devido a múltiplos fatores, incluindo mudanças no consumo de parte da população que passou a preferir refeições prontas, reduzindo o preparo em casa.
Outra influência é o crescimento das plataformas de apostas, as chamadas ‘bets’, que têm consumido parte do orçamento familiar, especialmente das famílias de baixa renda, impactando as compras de arroz e feijão.
O Rio Grande do Sul, em processo de recuperação das enchentes de 2024, é o maior produtor de arroz do país, enquanto o Paraná lidera na produção de feijão.
De acordo com o IBGE, a produção de arroz deve aumentar 15,9% em 2025 em comparação a 2024.
O feijão possui três safras anuais: a primeira, que geralmente termina no primeiro trimestre, deve crescer 28,4%; a segunda, em andamento, tem previsão de queda de 9,9%; e a terceira deve avançar 3,4%. O somatório dessas variações aponta um aumento de 4,6% na produção de feijão para 2025.
Fábio Romão, economista da LCA 4intelligence, destaca que safras maiores induzem a preços menores, especialmente no arroz, cujo plantio tende a se expandir após altos reajustes dos últimos anos.
No IPCA, o arroz acumulou aumentos de preço de 5,98% em 2022, 24,54% em 2023 e 8,24% em 2024, com uma projeção de aumento da área plantada em 11,3% para 2025.
Romão também observa que mudanças no consumo, com pesquisa da POF (Pesquisa de Orçamentos Familiares) de 2017-2018, indicam uma diminuição do feijão na dieta dos brasileiros ao longo do tempo.
Enquanto isso, o alimento em geral no domicílio registrou alta de 7,19% até maio, conforme o IPCA, com o café moído subindo 82,24% e carnes subindo 23,48%.
O encarecimento dos alimentos é preocupante para o governo Lula (PT), afetando especialmente as famílias mais pobres e contribuindo para a queda na aprovação presidencial no começo de 2025.
Para o restante de 2025, Romão prevê queda de 13,7% no preço do arroz e redução de 4% no feijão, considerando uma média dos quatro tipos pesquisados pelo IPCA.
Em São Paulo, o pacote de 1 kg de feijão carioca custava R$ 6,48 em abril de 2025, segundo levantamento conjunto do Procon-SP e Dieese, 17,87% mais barato que no mesmo mês do ano anterior (R$ 7,89).
O pacote de 5 kg de arroz teve preço médio de R$ 26,48 em abril de 2025, uma queda de 7,83% em comparação a abril de 2024 (R$ 28,73).
No entanto, a cesta básica de alimentos na capital paulista subiu 12,36% no mesmo período, conforme o levantamento do Procon-SP.