ANDRÉ FLEURY MORAES
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
Criminosos tiveram facilidade para entrar e sair da biblioteca municipal Mário de Andrade, onde roubaram 13 gravuras. Isso indica que a Prefeitura de São Paulo não avaliou corretamente os riscos da exposição que estava acontecendo com obras do francês Henri Matisse e do brasileiro Candido Portinari.
O consultor em segurança Alan Fernandes, que é conselheiro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, acredita que a gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB) não considerou o verdadeiro valor das obras. A Prefeitura não respondeu até o momento.
O roubo aconteceu na manhã de domingo, 7. Dois criminosos invadiram o local, renderam uma segurança que estava sem arma e levaram oito obras de Matisse e cinco de Portinari.
A Secretaria de Segurança Pública (SSP) informou na tarde da segunda-feira, 8, que prendeu um dos suspeitos. O outro ainda não foi identificado e nenhuma das obras foi recuperada.
Alan Fernandes comentou que o roubo revela uma grande falha na segurança do espaço. A dupla rendeu a segurança, obrigando-a a entregar o rádio e o celular, enquanto um dos suspeitos retirava os quadros das paredes. Não houve feridos ou disparos.
Especialistas em arte estimam que o valor total das peças roubadas pode chegar a R$ 4,5 milhões, embora os criminosos dificilmente consigam vendê-las por esse preço.
A Secretaria de Cultura e Economia Criativa informou que todas as obras estavam seguradas.
As obras faziam parte do acervo da cidade e estavam na exposição “Do Livro ao Museu: MAM São Paulo e a Biblioteca Mário de Andrade”, que terminou no domingo. A polícia investiga o caso pela 1ª Central Especializada de Repressão a Crimes e Ocorrências Diversas (Cerco).
O pesquisador Tadeu Chiarelli, professor da Escola de Comunicação e Artes da USP, acredita que o roubo foi feito sob encomenda, dada a rapidez da ação.
Tadeu Chiarelli ressalta que há grande preocupação com a venda das obras, especialmente as de Matisse, que são raras e chamam atenção de muitos colecionadores.
Segundo ele, é difícil que alguém consiga expor essas obras em locais comuns, pois o mercado é restrito e a comercialização possui muitos obstáculos, a menos que exista um colecionador muito interessado.
O grande desafio está em recuperar as obras, pois são pequenas e podem ser facilmente transportadas sem serem detectadas em aeroportos.
Por isso, é importante acionar a Interpol, como a Prefeitura declarou ter feito, e aumentar a fiscalização da Polícia Federal em aeroportos.
A curadora de arte Bianca Cutait, que trabalha em São Paulo, Miami e Genebra, aponta que exposições costumam usar vários mecanismos para proteger as obras contra roubos e furtos.
Ela explica que a maioria dos museus utiliza alarmes em todas as obras, e as mais valiosas possuem sensores que monitoram os quadros. A Prefeitura não informou se essa exposição tinha esses dispositivos.
Além de alarmes e sensores, o local de exposição geralmente é protegido com materiais resistentes. Muitas obras de maior valor possuem camadas de acrílico antifurto para garantir mais segurança.

