REINALDO JOSÉ LOPES
SÃO CARLOS, SP (FOLHAPRESS)
Para evitar que a produção de instrumentos musicais aumente o risco de desaparecer o pau-brasil (Paubrasilia echinata), uma reunião internacional decidiu criar um sistema global para acompanhar a origem da madeira dessa árvore tão valorizada.
A conferência, que terminou na sexta-feira (5), também incentivou o plantio comercial e a busca por alternativas ao pau-brasil, que é muito valorizado pelo som que proporciona em instrumentos de corda, como violinos.
O acordo aconteceu durante a 20ª conferência da Cites (Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies da Fauna e Flora Selvagens em Perigo de Extinção), em Samarcanda, Uzbequistão, com o Brasil ajudando para proteger melhor essa árvore símbolo do país.
Em comunicado conjunto, os ministérios do Meio Ambiente, da Cultura e das Relações Exteriores destacaram que a decisão é um avanço importante para conservar a espécie, equilibrando a proteção ambiental com a cultura.
A Cites divide os animais e plantas em categorias conforme o risco de extinção e controla o comércio das espécies ou seus produtos. O pau-brasil poderia ter sido colocado no Anexo 1, o mais restrito, onde não é permitido comércio algum, nem mesmo para circulação sem fins comerciais.
Músicos de todo o mundo temiam que essa restrição interrompesse a circulação de orquestras entre países e o conserto de arcos usados para tocar instrumentos. O arco depende das características únicas da madeira do pau-brasil para produzir os sons que músicos e ouvintes apreciam. Existem versões sintéticas, mas com desempenho inferior.
Na decisão final, o pau-brasil ficou no Anexo 2, com regras para controlar melhor a circulação dos objetos feitos com essa madeira. Instrumentos prontos, acessórios e peças para uso podem circular apenas para apresentações, uso pessoal, exibição, empréstimos, competições, ensino, avaliações e reparos.
O transporte dos instrumentos não pode envolver venda ou transferência para fora do país do dono atual. Também não será permitida a venda de madeira obtida diretamente da natureza, apenas a de plantações comerciais.
Fica em aberto a situação dos estoques de madeira adquiridos antes das novas regras da Cites para o pau-brasil.
Como cada arco usa pouca madeira, seria possível atender a indústria musical por anos sem derrubar novas árvores, desde que haja controle rigoroso da origem e dos estoques legais.
A decisão da Cites pede que os países criem regras para harmonizar o sistema de rastreamento da madeira no mundo, definindo unidades comuns de produção a partir da quantidade de madeira bruta ou serrada. Também é preciso cadastrar os estoques de cada país.
A ideia é seguir sistemas usados para outras árvores protegidas. Os países também se comprometem a financiar pesquisas em métodos de rastreamento, como a espectrometria de infravermelho próximo, que pode identificar rapidamente a madeira de árvores plantadas da selvagem.
O documento ainda incentiva proteger a espécie e as áreas naturais onde cresce, pesquisar fontes alternativas para arcos e divulgar a importância do pau-brasil para a qualidade dos instrumentos musicais. A data para o início do sistema de rastreamento não foi definida.

