O Ministério Público da Paraíba (MPPB) iniciou uma investigação sobre o falecimento de Gerson de Melo Machado, de 19 anos, que perdeu a vida após entrar no espaço de uma leoa no Parque da Bica, em João Pessoa. A instituição comunicou, nesta segunda-feira (1º/12), que buscará apurar as ações tomadas pelos órgãos responsáveis relacionadas ao incidente.
Gerson, que sofria de transtornos mentais sem tratamento, ultrapassou uma parede de seis metros e passou pelas grades de segurança do zoológico, utilizando o auxílio de uma árvore, até acessar o recinto da leoa.
O laudo preliminar do Instituto Médico-Legal (IML) apontou que a causa da morte foi choque hemorrágico provocado por ferimentos em vasos cervicais, resultado da mordida da leoa no pescoço, após o animal se sentir ameaçado pela presença do jovem e reagir para defesa.
Para instaurar a investigação, o promotor de Justiça considerou o dever do Ministério Público de garantir a eficácia das políticas ambientais, o bem-estar dos animais e o cumprimento das normas de segurança e manejo da legislação vigente.
Além disso, o Ministério Público solicitou que a Secretaria Municipal de Meio Ambiente informe, no prazo de 15 dias, quais medidas foram tomadas após o incidente, detalhando procedimentos administrativos, vistorias, avaliações técnicas ou reforço na segurança do Parque Arruda Câmara.
Detalhes do caso
Gerson de Melo Machado ingressou na área da leoa após escalar uma estrutura lateral da jaula, utilizando o tronco de uma árvore dentro do recinto como apoio. Ele foi atacado pelo animal dentro desse espaço.
Gerson apresentava histórico de 16 ocorrências policiais, principalmente por danos e pequenos furtos, além de evidentes sinais de transtornos mentais, os quais não foram tratados ou acompanhados adequadamente.
O MPPB busca verificar se as normas de segurança do zoológico foram cumpridas e investigar a ausência da internação do jovem, considerando seus problemas de saúde mental.
A investigação surge após grande repercussão social e ambiental e visa avaliar, sob a ótica da proteção coletiva, as ações adotadas pelo poder municipal em relação ao manejo da fauna.
O Parque da Bica deve prestar esclarecimentos sobre as providências tomadas após o incidente e informar sobre o manejo e a proteção da leoa. Serão investigadas a vigilância do recinto, a realização de exames médicos antes e depois do ataque e as medidas de bem-estar e enriquecimento ambiental adotadas ou reforçadas.
O promotor Edmilson de Campos Leite Filho ressaltou que o Ministério Público está vigilante e poderá tomar novas medidas, se necessário, para garantir a segurança tanto do animal quanto das pessoas que visitam o local.
Contexto social e familiar
A morte de Gerson revelou uma trajetória marcada por pobreza, transtornos mentais sem tratamento e abandono familiar. Verônica Oliveira, conselheira tutelar que acompanhou o jovem por oito anos, relatou que ele cresceu sem apoio e em condições muito difíceis.
Quando tinha 10 anos, Gerson foi encontrado pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) andando sozinho em uma rodovia e levado ao Conselho Tutelar, onde passou a receber apoio da rede de proteção à infância.
O MPPB informou que cobrará ações do poder público para fortalecer a Rede de Atenção Psicossocial em João Pessoa e na Paraíba, destacando a necessidade de serviços como Residências Terapêuticas para pessoas com transtornos mentais graves sem suporte social ou familiar. O objetivo é garantir dignidade e acesso a um atendimento qualificado, humanizado e multiprofissional pelo SUS.

