BRASÍLIA, DF
FOLHAPRESS
Integrantes do governo de Lula (PT) e parlamentares aliados viram como prejudicial para a direita a tentativa de reduzir as funções da Polícia Federal no relatório inicial apresentado por Guilherme Derrite (PP-SP) para o projeto de lei antifacção, uma das principais iniciativas do Executivo na área de segurança.
Auxiliares do presidente reconhecem que o governo enfrentava críticas públicas devido à crise de segurança desencadeada pela operação no Rio de Janeiro no fim de outubro. Porém, a decisão de Derrite de incluir mudanças nas atribuições da PF no projeto gerou rejeição entre membros do Executivo, sociedade civil, entidades, juristas e especialistas, permitindo que o Palácio do Planalto influenciasse o debate público.
Derrite foi nomeado relator na última sexta-feira (7) por decisão do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), numa derrota para o governo federal. O parlamentar é secretário de Segurança do governo de Tarcísio de Freitas (Republicanos), possível concorrente de Lula em 2026.
Horas depois do anúncio, Derrite publicou uma versão inicial do parecer com alterações significativas no texto do governo, incluindo a possibilidade de tratar as facções criminosas como grupos terroristas e a redução das funções da PF no combate ao crime organizado.
O governo passou a destacar os problemas do relatório, associando-o à PEC da Blindagem, aprovada na Câmara e rejeitada no Senado após pressão pública.
O Planalto orientou seus membros e porta-vozes a se manifestarem contra o texto. Vídeos explicativos foram produzidos pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência e divulgados nas redes sociais. Segundo um governista, defender a PF tem amplo apoio popular e é facilmente compreendido.
Guiados pela avaliação de que se o relator focasse só no endurecimento das penas e na equiparação do terrorismo às organizações criminosas, o governo teria perdido a disputa política, foram críticas as mudanças propostas por Derrite.
A escolha de Motta por Derrite como relator e o texto distorcido do deputado deram argumento ao governo para retomar o discurso de confronto “nós contra eles”, usado pelo Planalto para defender sua agenda tributária frente ao Congresso.
Vídeos falsos feitos com inteligência artificial criticavam o texto de Derrite e circulavam nas redes. Em um deles, quatro homens comemoravam dizendo que, caso o projeto fosse aprovado, a PF não mais investigaria seus “amigos e financiadores” no meio político e empresarial.
Na tarde de terça-feira (11), Derrite recuou nos pontos controversos, inclusive o papel da PF, após repercussão negativa. O anúncio foi feito ao lado de Motta e comemorado pelos governistas.
Questionado se as mudanças atendiam ao governo, Derrite disse que atendiam à população e negou contato com a gestão petista: “Isso não é recuo, é estratégia”, afirmou.
Mesmo aliados de Motta reconhecem o risco da indicação de Derrite, mas justificam que foi necessário para mostrar independência do presidente da Câmara, que vinha se aproximando do Planalto e sofrendo críticas internas.
Um interlocutor próximo ao deputado afirma que ele se opôs à decisão de alterar as atribuições da PF e que Motta o incentivou a rever essa postura. Publicamente, os dois chamaram de “narrativas” as acusações de que a PF seria prejudicada.
Além disso, Motta se posicionou como mediador entre Derrite e o governo, fazendo a ponte com o diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, e o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski.
Aliados do presidente avaliam que, na situação atual, o governo saiu fortalecido, conseguindo evitar desgastes e influenciar o debate público. O recuo de Derrite também impacta a imagem de Tarcísio e membros do Congresso.
Governistas pedem cautela e acompanharão a votação do projeto, prevista para quarta-feira (12), pois a oposição tentará incluir a equiparação do terrorismo às facções criminosas.
Aliados de Motta admitem desgaste à sua imagem, mas acreditam que, se o texto for aprovado, ele assumirá o mérito pela medida e que o debate entre parlamentares é habitual no processo legislativo.
Derrite, apesar das críticas, ampliou sua visibilidade pública, numa fase em que é lembrado como possível candidato ao Senado ou governo de São Paulo. Foi defendido por Motta e líderes de PP e MDB como técnico, e não como político usando o projeto para campanha, visão oposta à do governo, que acredita que a tramitação foi contaminada por disputas eleitorais.
Na terça-feira, durante entrevista, Motta e Derrite estavam acompanhados por líderes partidários e deputados de siglas como PL, PP, PSDB, PDT, Novo, União Brasil e Solidariedade para mostrar apoio ao projeto.
