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terça-feira, 02/12/2025

Estudante prevê mudanças no Enem quase um ano antes da prova

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Gustavo Gonçalves
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

O estudante de medicina Edcley Teixeira compartilhou, meses antes do Enem 2025, informações sobre uma nova forma de questão que seria usada no exame. Esse novo formato, chamado de “testlet”, reúne várias perguntas que partem de um mesmo texto base.

A Folha de S.Paulo teve acesso a capturas de telas das publicações feitas pelo estudante no Instagram em dezembro de 2024. Contatado por videochamada, o universitário confirmou que falou sobre essa novidade no ano anterior. “Eu comentei isso quase um ano antes. Os editais indicavam que viria um novo tipo de questão, com cinco perguntas ligadas ao mesmo texto. Isso é uma característica da estatística usada no TRT [Teoria de Resposta ao Teste]”, explicou.

O presidente do Inep, Manuel Palacios, responsável pelo exame, disse que o uso do “testlet” no Enem 2025 “não foi segredo” e integra o processo de modernização da avaliação.

Edcley afirmou que chegou a essa conclusão estudando editais e comunicados públicos do Inep. Esses documentos apontavam que a antiga TRI (Teoria de Resposta ao Item), usada desde 2009, seria gradualmente substituída pela TRT, uma metodologia mais atual.

Inicialmente, o “testlet” seria aplicado de forma experimental e a mudança definitiva aconteceria somente depois de 2025, se aprovada.

Surpreendentemente, o formato estreou já no primeiro dia do Enem deste ano, aparecendo novamente na prova realizada no Pará em 30 de novembro. Em ambas as ocasiões, cinco perguntas da prova de linguagens foram baseadas no mesmo texto, exatamente como Edcley havia previsto.

Após a primeira prova, em 12 de novembro, o MEC confirmou oficialmente a inovação do modelo “testlet” no Enem 2025, destacando que a metodologia mantém a independência entre as questões e torna a prova mais contextualizada.

Edcley compartilhou também trechos de editais voltados à seleção de criadores de questões, onde se mencionavam “oficinas para elaboração de testes” e a produção de grupos de perguntas interligadas.

Ele afirmou: “Os documentos mostram todo o processo e indicam o caminho que o Inep está seguindo”. A Folha confirmou a existência da página mencionada pelo estudante, apesar de o edital citado não estar mais disponível. Segundo ele, o material foi retirado posteriormente.

Esse documento indicava que, desde 2023, o Inep vinha realizando oficinas para criar “testlets” para o novo Enem, como parte de um plano que previa seleção de textos, elaboração de perguntas, revisões e relatórios técnicos, com prazos até dezembro de 2024.

Os participantes dessas atividades tinham que manter sigilo sobre o conteúdo.

Edcley acertou também a quantidade de perguntas por bloco, geralmente cinco, indicando que esse formato melhora a precisão na avaliação das habilidades do candidato e diminui o fator sorte presente no método antigo TRI.

Ele atribui seu sucesso em antever mudanças no Enem à experiência de participar do exame 13 vezes, sempre obtendo bom desempenho. Edcley lançou mão do que chama de “método de percepção algorítmica”, que une a análise de editais com a observação de padrões nas palavras dos textos. “Notei que algumas palavras se repetem nas questões, o que é importante na TRI, pois afeta o comportamento dos candidatos de diferentes níveis”, afirmou.

Para ele, o Inep elimina questões que não conseguem distinguir corretamente o nível de conhecimento dos participantes.

“Para aprovar uma questão, candidatos com pontuação de 800 devem acertar mais do que os de 600. Quando isso não acontece, a questão é descartada. Às vezes, a repetição de palavras atrai candidatos mais capacitados, e isso mostra como a prova é calibrada”, explicou.

Edcley, que cursa o quarto ano de medicina na Universidade Federal do Ceará, ganhou destaque após divulgar em uma live no YouTube questões muito parecidas com as do Enem 2025, pouco antes das provas de matemática e ciências humanas. Três dessas perguntas foram anuladas e o Inep acionou a Polícia Federal para investigar.

Em vídeos antigos, ele contou que seu método se baseia na participação em avaliações oficiais como o Prêmio Capes Talento Universitário e o Estudo de Comportamento de Itens, usados pelo Inep para testar perguntas antes de incluí-las no Enem.

Após o caso, o Inep anulou três perguntas da prova de 2025, ressaltando que nenhuma delas é idêntica às aplicadas.

“Nas divulgações nas redes sociais, foram encontradas apenas semelhanças pontuais entre as perguntas”, disse o órgão.

Questionado sobre a divulgação dessas participações em pré-testes, Edcley preferiu não comentar, mas admitiu usar, às vezes, um “marketing agressivo” para promover seus cursos de mentoria para o Enem.

O presidente do Inep afirmou que o modelo “testlet” já vinha sendo estudado e desenvolvido internamente há algum tempo e que sua adoção no exame deste ano não foi um segredo, com a expectativa de que o formato seja mantido nas futuras edições.

“As habilidades avaliadas continuam as mesmas, só que agora, em vez de cada uma ser medida por um fragmento diferente de texto”, explicou. Segundo ele, o plano de trabalho para os blocos de itens é um documento interno do Inep, acessível e necessário para a remuneração de colaboradores externos.

Durante a conversa, Edcley disse confiar na investigação técnica das autoridades.

“Confio no Enem, confio no Inep. Sou apaixonado pelo exame e acredito muito na competência técnica deles”, declarou.

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