Um relatório recente da ONU destaca que investir em uma economia verde, que combate as mudanças climáticas, pode ter custos iniciais, mas trará benefícios enormes, como gerar até 20 trilhões de dólares por ano a partir de 2070 e salvar milhões de pessoas da fome, poluição e desastres naturais. Além disso, ajudará a tirar centenas de milhões da pobreza.
Segundo Edgard Gutiérrez-Espeleta, coautor do estudo Global Environmental Outlook (GEO-7), tomar medidas rápidas já não é opcional, mas sim uma necessidade urgente. O documento, criado por 287 cientistas de 82 países, foi apresentado na 7ª Assembleia do Meio Ambiente da ONU em Nairóbi, Quênia.
Ainda que existam acordos como o Acordo de Paris, as emissões de gases de efeito estufa têm aumentado, causando temperaturas recordes e eventos climáticos extremos, como incêndios e enchentes.
Gutiérrez-Espeleta reforça que a ciência já mostrou as soluções, e o que falta é coragem para agir rápido e em grande escala.
Principais desafios para enfrentar as mudanças climáticas
- Crise ambiental: mudanças climáticas, perda de biodiversidade, degradação do solo e poluição ameaçam a saúde, economia e estabilidade social.
- Crise de governança: políticos focam em ganhos rápidos em vez de estratégias para o longo prazo.
- Reforma financeira: necessário redirecionar 1,5 trilhão de dólares em subsídios que prejudicam o meio ambiente e considerar 45 trilhões em custos ambientais.
- Respostas integradas: políticas devem envolver empresas, setor financeiro, academia, sociedade civil e conhecimentos indígenas para garantir transições justas e rápidas.
- Justiça e equidade: países ricos devem reduzir consumo e ajudar financeiramente os países menos desenvolvidos, priorizando comunidades vulneráveis e povos originários.
Os custos anuais dos desastres climáticos e da poluição já são altos, chegando a bilhões de dólares, o que reforça a necessidade de mudanças financeiras profundas.
Estima-se que as transformações econômicas propostas aparecerão a partir de 2050, com crescimento significativo até 2070. Para isso, o cálculo do Produto Interno Bruto deve ser revisado para incluir o bem-estar da sociedade e o estado dos recursos naturais, em vez de apenas quantidade de bens e serviços produzidos.
Gutiérrez-Espeleta explica que não faz sentido registrar a destruição de uma floresta como crescimento econômico, e que é necessário incorporar sustentabilidade e vulnerabilidades nas contas nacionais.
Um painel de especialistas, apoiado pelo secretário-geral da ONU António Guterres, trabalha para desenvolver essa nova forma de medir a economia.
Além disso, o relatório defende a revisão de subsídios e incentivos que promovem o uso de combustíveis fósseis e práticas agrícolas insustentáveis.
Robert Watson, outro líder do estudo, destaca que o crescimento da população e da riqueza mundial aumenta a demanda por energia, alimentos e materiais de forma que prejudica o meio ambiente. Ele enfatiza a importância de uma abordagem conjunta entre governos e sociedade para reverter esse quadro.
Dois cenários foram analisados: um focado em mudanças de comportamento e outro em avanços tecnológicos. Nenhum é suficiente sozinho; a combinação de ambos, junto com inovação e governança, é essencial para um futuro sustentável.
Temas como economia circular, energias limpas, uso responsável de minerais e dietas saudáveis serão fundamentais nesse processo, que exige diálogo entre governos e sociedade.
Apesar do negacionismo e do crescimento de governos populistas, a experiência de Gutiérrez-Espeleta como ministro na Costa Rica mostra que a questão ambiental pode se tornar central na política nacional, embora com progresso gradual.
Watson alerta que ajustar preços de energia e alimentos para refletir seu verdadeiro custo pode causar aumentos, mas é necessário para a sustentabilidade. Governos devem trabalhar com a população para explicar essas medidas.
Gutiérrez-Espeleta finaliza dizendo que a humanidade tende a agir apenas quando enfrenta desastre iminente, e que é crucial evitar chegar a esse ponto.

