SAMUEL FERNANDES
PARIS, FRANÇA (FOLHAPRESS)
Imagine que você quer escolher onde tomar um café entre várias cafeterias. Como decide? Ou, ao cozinhar, como organiza os passos da receita? Esses são exemplos de problemas complexos com muitas variáveis, e cientistas têm se perguntado como o cérebro humano os resolve.
Essa questão motivou um estudo recente publicado na revista Nature Human Behaviour. Compreender como o cérebro enfrenta esses desafios ajuda a entender o pensamento humano e pode melhorar os métodos de aprendizado de máquina.
Mehrdad Jazayeri, professor do Departamento de Cérebro e Ciências Cognitivas do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts) e um dos autores, explica que já se sabe muito sobre a capacidade humana para problemas complexos, mas faltava entender por que alguém usa uma estratégia específica.
No estudo, os participantes precisaram prever a trajetória de uma bola em um labirinto com apenas parte do caminho mostrado.
“Essa tarefa é difícil porque quase ninguém consegue resolver de forma ideal”, diz Jazayeri.
O raciocínio acontece de duas maneiras principais. Primeiro, o hierárquico: organizar o problema em grandes partes para decidir, sem analisar cada detalhe. Segundo, o contrafactual: rever decisões passadas e imaginar alternativas.
O estudo identificou três motivos para as pessoas escolherem entre esses raciocínios. Primeiro, o hierárquico é usado quando não se pode olhar todas as variáveis ao mesmo tempo, como no teste com o labirinto.
Segundo, o contrafactual aparece quando percebem que uma decisão foi errada e tentam corrigi-la. Ele ajuda a compensar limitações do raciocínio hierárquico.
Terceiro, memória é essencial para o contrafactual, pois essa lógica exige lembrar escolhas para melhorar decisões. “Pessoas com memória ruim tendem a evitar o contrafactual”, afirma Jazayeri.
Além dos participantes, os cientistas testaram modelos artificiais para ver como máquinas resolveriam o problema da bola no labirinto.
Quando limitadas como humanos, as máquinas usaram estratégias semelhantes ao cérebro humano.
Agora, os pesquisadores querem entender como o sistema nervoso humano processa tantas operações em problemas complexos. Essa investigação pode revelar ainda mais sobre como enfrentamos decisões com múltiplas variáveis.