GABRIELA CECCHIN
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
O preço do café moído acumula um acréscimo de 82,24% no último ano, conforme o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), divulgada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Somente em maio, o item subiu 4,59%.
Essa elevação, a maior desde o início do Plano Real, impacta diretamente os consumidores nos supermercados e tem refletido nos clubes de assinatura de café, que entregam pacotes selecionados mensalmente aos clientes.
O Noete Café Clube, localizado em Belo Horizonte (MG), relata que precisou reajustar o preço das assinaturas em quase 50% nos últimos dois anos, apesar desse aumento ser inferior à inflação enfrentada pela empresa no grão, que foi quase 150% no período.
O clube trabalha com lotes pequenos e limitados, mencionando que manter a qualidade com oferta restrita é um grande desafio.
“Está cada vez mais complicado encontrar cafés de qualidade a preços acessíveis. O valor subiu tanto que às vezes pequenos produtores evitam o esforço e custo extras para produzir um café diferenciado”, explica a empresa.
O Moka Clube, pioneiro no setor desde 2012, também aumentou seus valores, porém observou crescimento na base de assinantes.
“Com a alta do café, o custo do clube tornou-se mais vantajoso comparado à compra avulsa. Os clientes têm segurança na qualidade, sem o risco de adquirir um café inferior no varejo”, afirma a equipe.
Giuliana Bastos, consultora da Abic (Associação Brasileira da Indústria de Café), destaca que a procura por clubes de assinatura aumentou após a pandemia, motivada pelo maior uso de delivery, interesse por novas experiências e descontos disponíveis.
“É esperado que todos os preços de produtos e serviços relacionados ao café se ajustem, já que a matéria-prima teve um aumento expressivo. Em quatro anos, o custo dela subiu 224%”, comenta a consultora.
O aumento do preço do café se deve à queda severa na safra causada por eventos climáticos de 2023 e 2024, como queimadas no Sul de Minas Gerais, secas prolongadas e os efeitos do El Niño.
Isso interferiu nos principais produtores globais, como Brasil e Vietnã, reduzindo a oferta mundial.
HÁ PERSPECTIVA DE QUEDA NOS PREÇOS DO CAFÉ?
Após vários meses de alta, o setor espera que o ciclo de valorização do café possa estar próximo do fim, com previsão de recuperação das safras e estabilização dos preços no segundo semestre deste ano.
O Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) da USP apontou que em maio os preços do café arábica caíram 10,71% e os do robusta mais de 18%.
“Os valores do robusta recuaram mais que os do arábica, devido à colheita mais avançada do robusta e expectativa de safra maior”, explica o levantamento.
Guilherme Moreira, coordenador do IPC/Fipe (Índice de Preços ao Consumidor de São Paulo), afirma que embora os preços mostrem desaceleração, não há indicação clara de reversão ou queda sustentada.
“Na capital paulista, o café acumulou alta de quase 90% em 12 meses. Mesmo com variações menores, a tendência é de preços ainda em alta.”, esclarece.
“Diferentemente de alimentos perecíveis, o café tem um ciclo longo de recuperação. Leva tempo para os cafezais retornarem à produção plena. Mesmo com uma safra positiva, os preços e estoques permanecerão impactados por um período.”, complementa.
Celírio Inácio, diretor executivo da Abic, afirma que há um intervalo natural de 15 a 25 dias entre as negociações com o varejo e o impacto no consumidor final.
“Muitos supermercados ainda têm estoques comprados a preços altos, o que mantém os preços elevados por enquanto.”, diz.
Ele observa, porém, uma possível redução nos preços da matéria-prima devido à colheita em andamento e boas condições climáticas.
“Se a previsão de uma safra melhor se confirmar e os valores se estabilizarem no campo, é possível que os preços para os consumidores caiam nos próximos meses.”, prevê.
CONSUMIDORES DE SUPERMERCADOS SÃO OS MAIS IMPACTADOS
Segundo Guilherme Moreira, os consumidores que buscam café em pó nos supermercados são os mais afetados, já que o café solúvel teve aumento de 46,69% nos últimos 12 meses, bem inferior aos 89,04% do café em pó.
“Em padarias, o custo do café em pó é diluído e não se reflete tanto no preço dos produtos. O café espresso, geralmente, não dobrou de preço no último ano.”, observa.
“Porém, o café em pó é essencial, está na cesta básica e gera memória de preço nos compradores, assim como itens como pão francês, leite, arroz e feijão. Quando o valor sobe, os consumidores sentem imediatamente no orçamento.”, conclui.