A capital do país faz aniversário com comércios fechados, pontos turísticos vazios e muitos trabalhadores em um ambiente diferente daquele planejado por Oscar Niemeyer: o virtual.
Uma Brasília diferente, que Juscelino Kubitschek não poderia nem imaginar há 61 anos. Comércios fechados, pontos turísticos vazios e muitos trabalhadores em um ambiente diferente daquele desenhado e planejado por Oscar Niemeyer: o virtual.
Fechando e abrindo portas
Segundo o presidente da Confederação dos Dirigentes Lojistas do Distrito Federal, Wagner Silveira, com servidores públicos e outros profissionais trabalhando em casa, alguns segmentos do comércio foram alavancados, em detrimento de outros. “Bares, restaurantes, eventos e academias foram os seguimentos mais afetados, enquanto que os seguimentos de internet, e-commerce, marketplace e material de construção bombaram”, diz e complementa “nós esperávamos que o e-commerce em três ou quatro anos fosse chegar ao nível que chegou no ano passado”.
Esse aumento na demanda foi sentido diretamente na empresa de e-commerce que atua no mercado de Brasília e do Centro-Oeste, onde Hugo Cândido ocupa o cargo de CEO. “A empresa cresceu 61%, o esperado era 20%, então crescemos três vezes mais que o esperado”, afirma.
Hugo conta ainda que a maior parte dos clientes que procuraram a empresa eram comerciantes locais que estavam com seus comércios fechados e precisavam vender no mundo digital imediatamente. “Nós poderíamos ter crescido muito mais se tivéssemos pensado meramente na parte econômica, mas nós também decidimos ajudar as pessoas”, conta.
Não foram todos os comércios que conseguiram se adaptar a uma versão digital. A servidora pública Tatiane Martins revela que ao longo do último ano, o número de comércios locais fechados foi outra mudança no cenário da cidade que chamou a atenção. “Eu lamento muito por estabelecimentos muito tradicionais que a gente passa e vê que foram fechados. Restaurantes que, desde que eu era menina, eu frequentava e hoje não existem mais.”
O executivo Hugo lembra que o número de empresas que não estavam preparadas para esse momento foi tão grande que foi necessário adaptar os serviços oferecidos para dar conta da demanda e não deixar de atender aos clientes e também de apoiar o comércio da região em um momento de dificuldade para a economia global. “A partir do momento que nós diminuímos o nosso pacote de serviços para uma versão pocket, eu também consegui abaixar o custo e com isso, atender mais pessoas”, diz.
Cultura online
Wagner Silveira diz que embora tenham sido muitos os comércios que fecharam as portas por causa da pandemia, outros muitos viram na crise uma oportunidade de crescimento.
Essa foi a situação de uma das mais tradicionais casas de evento de Brasília, o Clube do Choro. “Foi um impacto muito grande porque nossas portas estão fechadas desde março de 2020”, afirma o violonista e diretor do Clube do Choro de Brasília, Henrique Neto.
Segundo ele, com um impacto direto na vida de quem trabalha no espaço e dos que vivem da cultura em Brasília, o Clube do Choro teve que se reinventar e criou atividades híbridas em que um mínimo de pessoas trabalhavam dentro do espaço e o público acessava por meio das redes sociais e de outras plataformas digitais. “Criamos o Instagram e o canal no Youtube do Clube do Choro, que agora está com uma programação bastante ativa” explica.
Além disso, novas programações foram produzidas para aumentar a interação com o público usual, por meio desses espaços virtuais, como o programa Papo com o Reco do Bandolim e a programação que estava prevista para a celebração dos 60 anos de Brasília, que aconteceria presencialmente em 2020, foi adaptada e será totalmente online, este ano, com o nome Brasília 60 anos + 1.
A importância das pessoas no ambiente urbano foi mais um aspecto destacado por Tatiane, a partir da percepção que teve nos momentos em que circulou em Brasília no último ano. Os prédios monumentais desenhados por Oscar Niemeyer, com obras de arte em suas paredes, vitrais e mobiliários, talvez nunca tenham estado tão distantes do olhar próximo de quem visita a cidade ou vive nela.
O próprio prédio do Clube do Choro, desenhado pelo arquiteto e pensado para ser o ponto de fusão cultural da cidade é também considerado um ponto turístico, mas que permaneceu sem visitantes nos últimos meses.
“Uma das alternativas que a gente já estruturou é um projeto chamado Complexo Cultural do Choro, no qual vamos fazer uma programação aos finais de semana onde a gente vai promover feiras com uma programação bastante variada musical e artística, aproveitando e integrando as áreas externas entre o Clube do Choro e a Escola de Choro Rafael Rabello”, afirma Henrique.
Pensando na revitalização desses espaços, em um momento que exige distanciamento social, a Secretaria de Turismo do Distrito Federal divulgou rotas para passeios abertos durante a pandemia, como a Rota Náutica, com opções de passeio e vistas em toda a orla do Lago Paranoá, o maior lago artificial urbano do mundo; e as rotas Cívica, Arquitetônica e Cultural. “A ideia foi mostrar que Brasília é muito mais além do que a maioria das pessoas imaginam” afirma a secretária de Turismo do Distrito Federal Vanessa Mendonça.
Com o retorno gradual das atividades o setor também se transforma com o crescimento do turismo rural que, segundo um levantamento da Setur, aumentou 40% no Distrito Federal, durante a pandemia. “O turismo rural representa geração de emprego e a possibilidade de manter as famílias e a comunidade no lugar onde elas nasceram, com a perspectiva de desenvolvimento”, afirma Vanessa.
Apesar do tamanho do desafio, a jovem senhora capital federal comemora seus 61 anos como um dos principais destinos a serem visitados pelos brasileiros após a flexibilização das medidas restritivas causadas pela pandemia, segundo o ranling destinos turísticos tendência para 2021, realizado pelo Ministério do Turismo.